A nossa vida é um longo diálogo connosco mesmos. Refletir é ver-se e escutar-se como se fossemos um outro diante de nós. Vivemos na constante presença do que somos, mergulhando por vezes bem fundo no nosso interior, em busca da paz que resulta da compreensão.
Depois, há também em nós uma enorme força, uma espécie de pressão, que a partir do nosso interior nos quer para fora, para o mundo, e tudo faz para que partilhemos o que somos, como se o alívio das nossas inquietações só fosse possível no encontro com o outro.
Então, por um lado, sentimo-nos únicos e sós, inexplicáveis a partir de fora! Por outro, a nossa essência empurra-nos para fora, para que nos comprometamos em projetos que ninguém consegue concretizar sozinho. Mas porquê?
A verdade é que ninguém se basta a si mesmo, apesar de parecer que vivemos condenados a um isolamento em relação à compreensão e ao amor dos outros.
Somos o sopro de um vento maior que brota do mais fundo da nossa alma. Vivemos escondidos à espreita de uma oportunidade de fazer explodir o nosso ser.
Há quem tenha certeza da existência de Deus, mas julga-O longe, lá no Céu ou em qualquer outro espaço ou tempo.
Mas estar em silêncio e não se poder ver não significa que algo não esteja diante de nós, ou atrás... ao nosso lado. Talvez até os nossos ombros se estejam a tocar!
Importa que deixemos o nosso coração ver. Sentir. A solidão que ele sente é sua ou somos nós que a forçamos?
É preciso que consigamos criar sossego dentro de nós. O que pensamos, sentimos, queremos, acreditamos, o que temos vontade de fazer e o que em nós nos ultrapassa, devem estar em paz uns com os outros. Talvez não seja preciso estarem afinadíssimos, bastará que não haja guerra!
Sentir e apontar culpas é um sinal claro de uma inquietude enraizada e do nosso distanciamento face à felicidade. Impede-nos de viver, de nos redimirmos, de criarmos o bem a partir do que parece ser vazio. De sermos mais do que somos, sermos quem podemos e devemos ser.
É bom parar de vez em quando, apenas para que depois possamos sair de nós e nos ocupemos das necessidades do outro, do mundo e das nossas próprias.
Nunca estamos sós. Deus existe e não está longe. Está aqui. Ao nosso lado.
O que nos é pedido é simples: que nos deixemos um pouco para trás, que olhemos e escutemos o outro, que o aliviemos das suas feridas... conseguindo fazê-lo sentir tão único quanto próximo!
Por José Luís Nunes Martins
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