«Se ao menos hoje conhecesses o que te pode dar a paz!»

«Que alegria, quando me disseram: “Vamos para a casa do Senhor!” Os nossos pés detêm-se às tuas portas, ó Jerusalém!» [Sl 121,1-2] Que Jerusalém é esta? Há na Terra uma cidade com este nome, mas que é uma sombra da outra Jerusalém.

Que felicidade poderá haver em viver na Jerusalém deste mundo, que não conseguiu sustentar-se e caiu em ruínas?

[...] Não é da Jerusalém deste mundo que fala aquele que tem tanto amor, tanto ardor, tanto desejo de alcançar a Jerusalém «nossa mãe», que o apóstolo Paulo afirma ser «eterna nos Céus» [Gal 4,26; 2Cor 5,1].

[...] Jerusalém, que «haja paz dentro das tuas muralhas» [Sl 121,7]. Que haja paz no teu amor, porque o amor é a tua muralha. Ouçamos o Cântico dos Cânticos: «Forte como a morte é o amor» [8,6].

[...] Com efeito, o amor destrói aquilo que fomos, para nos permitir, por uma espécie de morte, tornarmo-nos aquilo que não éramos.

[...] Era esta morte que se operava naquele que afirmou: «O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo» [Gal 6,14]. E é desta morte que fala este mesmo apóstolo quando afirma: «Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus» [Col 3,3].

Sim, «forte como a morte é o amor». E, se o amor é forte, também é poderoso e tem grande força; ele é uma muralha. [...] Assim, pois, que haja paz dentro das tuas muralhas, Jerusalém, no teu amor.

Por Santo Agostinho