As consequências desta dependência são enormes. Não há
pedaço nem recanto da nossa vida onde o telefone não esteja presente e não seja
tido como algo de valioso.
As tecnologias da comunicação abrem portas, mas fecham
muitas outras, algumas delas essenciais.
Importa que aprendamos a manejar esta arma com sabedoria, a
fim de que não sejamos vítimas da nossa ingenuidade.
Chega a parecer que perdemos a capacidade de estar sozinhos,
em silêncio, apenas a pensar... a lembrar ou a sonhar... Como se nos tivessem
roubado o aqui e o agora. Precisamos de um auxílio que nos ajude a passar o
tempo, como se o tempo fosse uma coisa má que importa combater. Como se o nosso
eu fosse desagradável e precisássemos de uma distração que nos mantivesse longe
dele. Uma espécie de tirano disfarçado de melhor amigo!
De tempos a tempos, vale a pena parar. Retirarmo-nos,
pensarmos com paz no que queremos para nós mesmos, em quais têm sido as raízes
das nossas escolhas e em quanto do que existe de adverso na nossa vida pode ser
melhorado. Nisto, nem o topo de gama da tecnologia nos pode ajudar. Não há
página da Internet nem aplicação que nos possa valer... Mas o botão onde se
desliga o aparelho pode ajudar!
As tecnologias podem dar-nos todas as informações, mas não
determinam a forma como as devemos interpretar e valorizar. A nossa existência
é uma resposta ao que sucede à nossa volta, não uma mera consequência das
nossas circunstâncias. Aprender a sentir, pensar, agir e reagir é essencial se
queremos ser felizes e viver os nossos dias cada vez melhor.
Ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos, ninguém nos
pode ajudar tanto como nós próprios, só precisamos de oportunidades e de alguma
prática! Cada um de nós tem um mundo dentro de si, montanhas, mares, desertos,
selvas, planícies, praias... e tudo o mais. Vale a pena viajar por lá.
A pé e
de helicóptero. Dando tanta atenção às flores mais pequenas como aos horizontes
mais largos.
Conhecendo-nos. Criando-nos partindo do que já somos.
Quantas conclusões falta retirar das lições que a nossa vida
já nos deu?
Os telefones e os computadores não servem para nada disto.
Dão-nos apenas novidades, mas quantas dessas notícias são mesmo importantes?
A sede urgente por informações atualizadas é sinal de que
estamos atentos ao mundo distante e aos outros ou... a fugir de nós mesmos e
daqueles que nos estão próximo?
Sabemos o que os outros andam a fazer. E isso é o que nós
fazemos!
O mais importante não é estarmos sempre em alerta máximo,
mas conseguirmos viver de forma calma e em paz.
Vendem-nos esperanças de perfeição e nós acreditamos mesmo
que a felicidade está a três ou quatro cliques de distância, só têm de ser os
certos... a angustiamo-nos porque nunca acertamos. Serão necessários imensos
fracassos até que alguns percebam que a verdadeira alegria não brota de nenhum
ecrã, por melhor que ele seja.
Parece mais fácil confessarmo-nos por trás de um teclado,
mas porque será que nessas alturas não sentimos falta do olhar e da presença do
outro? Será que nos tornamos incapazes de ser humanos? Ou deixamos de acreditar
no amor dos outros?
O amor é muito mais do que o visível. Mais do que palavras
ou imagens, é invisível e potente como o vento, que nada diz nem se deixa ver.
Apenas sentir. Quando estamos presentes.
Há quem passe os dias a tirar fotografias a si mesmo. Porquê
e para quê? O que significa esta vontade de a-parecer? Será fome de amor? Do
verdadeiro ou só do aparente?
Os telefones são muito obedientes, mas estão sempre a
seduzir-nos. Prometem trazer-nos o universo inteiro, mas, na verdade, roubam-nos
o tempo e a atenção de que precisamos para viver o mundo que está à nossa
volta. São inteligentes, mas não devemos nós ser mais inteligentes do que eles?
São cada vez mais os que passam o tempo de cabeça em baixo,
não estão a admirar a profundidade da vida, mas a olhar para um aparelho que
nunca vai mais fundo do que a superfície da realidade.
Aproveitemos cada dia, porque cada dia é uma vida!
Por José Luís Nunes Martins
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