A história do Santo Rosário


Esta devoção tão cara para nós católicos tardou séculos para ser plasmada. Antes de mais nada foi necessário surgir a oração da Ave-Maria para que o terço pudesse ser idealizado. O surgimento da Ave-Maria foi, por sua vez, decorrência do desejo dos fiéis católicos de honrar de alguma maneira Nossa Senhora. A oração mais antiga que se conhece dirigida à Virgem Santíssima é o “Sub tuum praesidium Sancta Dei Genetrix”, “À vossa proteção nos recorremos, Santa Mãe de Deus”. Com relação à Ave-Maria, pelo que se sabe, por volta do ano 600 já era rezada a sua primeira parte. Posteriormente, entre os séculos X e XI foi acrescentado o nome de Jesus ao final da oração. A segunda parte da Ave-Maria surgirá no século XIII, juntamente com o terço, tendo um papel importante São Domingos de Gusmão 1170-1221).

Este santo foi um sacerdote espanhol, fundador da ordem dos dominicanos ou pregadores. Num determinado momento da sua vida decidiu ir à França para lutar contra a heresia albigense. Esta heresia, entre outros erros, ensinava que havia dois deuses: um bom e um mau. São Domingos se empenhou no combate desta heresia, mas, no início, não conseguiu grandes frutos.

Segundo uma antiga tradição, no ano de 1208, foi a um bosque chorar, rezar e suplicar a Nossa Senhora para que mostrasse uma arma espiritual eficaz para vencer aquela batalha. Depois do terceiro dia que estava em oração, Nossa Senhora apareceu-lhe acompanhada de três anjos e disse a São Domingos: ¾ Querido Domingos, você sabe qual é a arma que a Santíssima Trindade quer usar para mudar o mundo? A resposta de São Domingos foi que ela sabia melhor que ele. Então Nossa Senhora lhe disse: ¾ Quero que saiba que neste tipo de guerra a arma sempre foi o Saltério Angélico (palavras do Arcanjo Gabriel a Nossa Senhora na Anunciação), que é a pedra fundamental do Novo Testamento. Portanto, se você quer converter estas almas endurecidas e ganhá-las para Deus, difunda o meu saltério.

Conta-se que Nossa Senhora, então, mostrou o terço para São Domingos, com as 50 Ave-Marias, que passou a ser conhecido como Saltério da Bem-Aventurada Virgem Maria. A partir daí São Domingos começou a espalhar esta devoção, encontrando eco nos fiéis católicos que não sabiam ler e queriam de alguma maneira imitar os monges que recitavam os 150 Salmos da Bíblia.

Passado um tempo, como esta devoção veio a languidescer, Nossa Senhora apareceu ao beato Alano de Rupe (1428-1475), também da ordem de São Domingos, e lhe pediu para avivá-la novamente. Nossa Senhora lhe disse que seriam necessários volumes imensos para registrar todos os milagres obtidos por meio do terço e reiterou as promessas feitas a São Domingos de Gusmão.

Inspirado pela Mãe de Deus, Alano criou as agrupações de 50 Ave-Marias conhecidas como Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos. Acrescentou também os Pai-Nossos no início de cada dezena. Surgia assim o Rosário como nós conhecemos hoje, com a diferença da inclusão recente dos Mistérios Luminosos pelo papa João Paulo II.

Um marco importante na história do terço: a batalha de Lepanto

A batalha de Lepanto deu-se no dia 7 de outubro de 1571 e teve como finalidade conter o avanço turco na Europa. Os cristãos, incentivados pelo Papa Pio V, estavam sob o comando de Juan de Áustria. A esquadra cristã, composta de aproximadamente 200 embarcações, teve de enfrentar-se com uma frota adversária ligeiramente superior.

O papa esteve preparando esta batalha ao longo de vários anos, procurando formar uma união de católicos que se dispusessem a conter este avanço. No dia 14 de setembro de 1569 publicou um documento chamado Carta Breve Consueverunt, onde recomendava a oração do Rosário por parte dos católicos, vendo nela um presságio da vitória.

Dois anos depois se travou o combate que durou apenas um dia, com a vitória dos católicos. No final da luta, Nossa Senhora apareceu diante do papa Pio V, que estava em Roma, para lhe comunicar a boa notícia. Com grande alegria o papa instituiu neste dia, 7 de outubro, a festa de Nossa Senhora do Rosário, com a certeza de que foi através da oração do Rosário recitada por tantos fiéis ao longo de dois anos que propiciou a vitória nesta batalha tão decisiva para a cristandade. A partir desta data o rosário passará a ser conhecido como “arma poderosa”, a arma por excelência dos católicos para vencerem todos os inimigos.

Terço: é também remédio para a alma

Um tempo atrás chegou-me às mãos uma caixinha de remédio chamada Tercium, onde encontrei um terço e uma bula. A bula dizia assim:

Leia cuidadosamente esta bula antes de administrar o medicamento. Contém informações importantes para o seu tratamento.



Cada mistério contém: 1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória ao Pai

Indicações: Tercium está indicado para o tratamento da alma com efeito seguro e prolongado. Protetor revigorante, alimenta-a poderosamente protegendo-a contra todos os vírus e bactérias que possam prejudicá-la. Foi comprovada ainda a sua ação não só na própria pessoa que o utiliza como nos membros da família e, dependendo da dose, até na sociedade.

Fabricado especialmente para quem padece de doenças espirituais, tais como: fraqueza interior; tensão nervosa, ansiedade; tristeza ou depressão; estresse em geral; falta de fé; falta de amor no coração; falta de paz; falta de alegria; e também para quem necessita alcançar graças importantes e pretende fortalecer a família.

1. Prometo minha proteção e as maiores graças aos que rezarem o terço;
2. Aqueles que rezarem-no com muita fé em vida, na hora de sua morte encontrarão a luz de Deus e a plenitude da sua graça;
3. As crianças devotas dele merecerão um alto grau de glória no céu;
4. Obterão tudo o que pedirem mediante esta oração;
5. Os que propagarem esta devoção serão assistidos por mim em suas necessidades;
6. Os que acudirem a mim ao rezá-lo, terão como intercessora toda a corte celeste durante a vida e na hora da morte;

Estas promessas, de uma maneira ou de outra, foram reiteradas por Nossa Senhora nas aparições de Fátima, que neste ano está completando cem anos.

Veja, por exemplo, o que a Virgem Santíssima disse à irmã Lúcia na primeira aparição:

¾ Não tenhais medo, não farei nenhum dano!
¾ De onde vem Vossa Mercê?
¾ Venho do Céu.
¾ E, o que queres de mim?
¾ Venho pedir-te que durante 6 meses seguidos venhas aqui no dia 13 a esta mesma hora. Então te direi quem sou e o que quero. E, depois, voltarei aqui uma sétima vez.
¾ E irei eu também ao Céu?
¾ Sim, irás.
¾ E Jacinta?
¾ Também
¾ E Francisco?
¾ Também! Mas terá que rezar muitos terços!... Desejais oferecer-vos a Deus para suportar todo o sofrimento que Ele deseja enviar-vos, como ato de reparação pelos pecados pelos quais Ele é ofendido e para pedir pela conversão dos pecadores?
¾ Sim, queremos.
¾ Então tereis que sofrer muito. Mas a graça de Deus vos confortará. (Luz intensíssima que penetrou no mais profundo do coração e da alma) Nisto, se ajoelharam e fizeram um ato de adoração a Deus. A Virgem, em seguida disse: ¾ Rezai o Rosário todos os dias para obter a paz do mundo e para terminar a guerra.

Nossa Senhora, nestas palavras, mostra a força do terço para alcançar a salvação e como instrumento da paz do mundo.

O terço nas palavras dos papas e dos santos

Sendo o terço esta devoção tão especial, compreende-se que os papas e os santos tenham escrito palavras maravilhosas sobre ele. Vejam apenas algumas delas:

Se quiserdes que a paz reine em vossas famílias e em vossa pátria, rezai todos os dias o Santo Rosário em família (Pio X).

A família que reza unida, permanece unida. O Santo Rosário, por antiga tradição, presta-se de modo particular a ser uma oração onde a família se encontra. Os seus diversos membros, precisamente ao fixarem o olhar em Jesus, recuperam também a capacidade de se olharem sempre de novo olhos nos olhos para comunicarem, solidarizarem-se, perdoarem-se mutuamente, recomeçarem com um pacto de amor renovado pelo Espírito de Deus. Muitos problemas das famílias contemporâneas, sobretudo nas sociedades economicamente evoluídas, derivam do facto de ser cada vez mais difícil comunicar. Não conseguem estar juntos, e os raros momentos para isso acabam infelizmente absorvidos pelas imagens duma televisão. Retomar a recitação do Rosário em família significa inserir na vida diária imagens bem diferentes – as do mistério que salva: a imagem do Redentor, a imagem de sua Mãe Santíssima. A família que reza unida o Rosário, reproduz em certa medida o clima da casa de Nazaré: põe-se Jesus no centro, partilham-se com Ele alegrias e sofrimentos, colocam-se nas suas mãos necessidades e projetos, e d'Ele se recebe a esperança e a força para o caminho (João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, n. 41).

O terço é a melhor maneira de rezar (Santa Teresa). Entre todas as homenagens que se devem a Mãe de Deus, não conheço nenhuma mais agradável que o terço; a esta devoção devo minha salvação eterna (Santo Afonso).

Depois da missa, a devoção do terço faz cair sobre as almas mais graças que qualquer outra; e, pelas Ave-Marias, opera-se muitos mais milagres que qualquer outra oração (São Vicente de Paulo).
O valor desta devoção é tão grande que a Igreja confere indulgência plenária a quem “rezar o terço numa igreja ou em família”. (Enchiridion de indulgências).

Impressionante milagre do terço

Como disse a própria Virgem Santíssima ao Beato Alano de Rupe, seriam necessários volumes imensos para registrar todos os milagres obtidos por meio do terço. Gostaria de citar apenas um para maravilhar-nos do seu poder.

Já faz bastante tempo, na cidade de Cartago, Costa Rica, houve um terremoto tão violento que a destruiu quase completamente. A Revista "América", narrando os pormenores da pavorosa catástrofe, chamou a atenção dos leitores para o seguinte fato: Sr. Ezequiel Gutierrez, ex-presidente daquele país, no momento do cataclismo achava-se em casa rezando o terço acompanhado de toda a sua família. Algumas pessoas quiseram interromper a oração e fugir para a rua, mas o ex-presidente obrigou-as a ficarem até o fim. Quando terminaram, saíram à rua e ficaram assombrados ao verem que todas as casas se tinham convertido em ruínas. Em toda a redondeza nenhum edifício ficou intacto, a desolação era completa; somente a casa do ex-presidente não sofrera nenhum dano, nem sequer um abalo.

Além do seu poder inigualável o terço pode ser visto como um Evangelho para os doutos e para os simples é o que nos revela esta estória que pode ser perfeitamente verídica: Havia uma senhora muito simples que vendia verdura na vizinhança. Certo dia foi vender suas verduras na casa de um protestante e perdeu o terço no jardim da sua casa. Passados alguns dias, voltou novamente à sua casa. O protestante ao vê-la disse: Você perdeu o seu deus?

Ela respondeu: Eu perder o meu Deus? Nunca!
Então ele pegou o terço e disse: Não é este o seu deus?
Ela disse: Graças a Deus o senhor encontrou o meu terço, muito obrigada.
Ele disse: Por que você não troca este cordão com estas sementinhas pela Bíblia?

Porque a Bíblia eu não sei ler, e com o terço eu medito toda a Palavra de Deus e a guardo no coração. Medita a palavra de Deus? Como assim? Poderia me dizer? Posso sim, respondeu ela. Quando eu pego a cruz, lembro-me que o filho de Deus derramou todo o seu sangue pregado numa cruz para salvar a humanidade. Esta primeira conta grossa me faz lembrar a oração que o Senhor nos ensinou, que é o Pai-Nosso. O terço tem 5 mistérios que fazem lembrar as cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo cravado na cruz, e cada mistério tem 10 Ave-Marias, que me fazem lembrar os 10 Mandamentos que o Senhor mesmo escreveu na tábua de Moisés O Rosário de Nossa Senhora tem 15 mistérios, que são: os 5 gozosos, 5 dolorosos e 5 gloriosos. De manhã quando me levanto para iniciar a minha luta do dia eu rezo os gozosos lembrando-me do humilde lar de Nazaré. No meio do dia, no meu cansaço e na fadiga do trabalho eu rezo os mistérios dolorosos, que me fazem lembrar a dura caminhada de Jesus Cristo para o Calvário. Quando chega o fim do dia com as lutas vencidas eu rezo os mistérios gloriosos, que me fazem lembrar que Jesus venceu a morte para nos dar a salvação a toda a humanidade. E agora me diga onde está a idolatria? Depois de ouvir tudo isso, disse: Eu não sabia disso. Ensina-me a rezar o terço.

Conclusão

Que este Mês Extraordinário da Missão nos sirva para aprofundarmos na devoção a Nossa Senhora e que esta devoção se materialize, entre outras iniciativas, na oração do terço. Que o incorporemos no nosso dia a dia, que o rezemos como for, pois como dizia o papa João XXIII, “o pior terço é aquele que não se reza”. Que também sejamos pregoeiros deste pedido do papa São João Paulo II: “que as famílias voltem a rezar o terço em família como antigamente”.

Rezando com amor esta devoção, quando chegarmos ao Céu, com a graça de Deus, Nossa Senhora nos mostrará os benefícios alcançados através do terço: os milagres, as conversões, os bens físicos e espirituais concedidos, a salvação de tantas e tantas almas.

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