A Igreja que Comemora o Futuro e Esquece o Céu


Diário de um Católico na Contrarrevolução — Parte 28

Há palavras que soam piedosas, mas carregam veneno. Quando um papa fala de “comemorar o futuro”, e não de rezar pelos mortos, não é mais o Evangelho que ecoa — é a linguagem do mundo. A liturgia, que nasceu para unir o tempo à eternidade, virou laboratório de slogans sociológicos. Fala-se em “inclusão”, mas cala-se sobre conversão. Menciona-se “esperança”, mas esquece-se do purgatório.

No Dia de Finados, quando o Céu se inclina para ouvir as orações da Igreja militante, o sucessor de Pedro preferiu anunciar que “ninguém deve perecer para sempre”. Soa terno — quase maternal. Mas por trás dessa ternura há um abismo: a negação da justiça divina. É a substituição da salvação pela autoaceitação. O inferno deixa de ser o horror dos santos para se tornar o embaraço dos teólogos progressistas.

Do Calvário à Autoestima

O modernismo é o evangelho do conforto. Ele não quer santos ajoelhados, quer consciências satisfeitas. Seu credo é o da psicologia: “Você é amado exatamente como é” — sem arrependimento, sem cruz, sem confissão.

Onde a Tradição proclamava “Lembra-te do teu fim e não pecarás jamais”, o novo catecismo pós-conciliar murmura: “Comemore o futuro”. Mas o futuro, sem arrependimento, é só o prolongamento do pecado.

Na teologia de Leão, cada homem “irradia sua beleza única”. Soa poético, mas é antropocentrismo em vestes litúrgicas. Quando tudo é belo, até o pecado perde a feiura. Quando todos se salvam, Cristo morreu em vão.

Os santos falavam do inferno com lágrimas. Leão fala do paraíso como se fosse um festival multicultural. O céu deixa de ser a visão de Deus e torna-se o “encontro das diferenças”. É o Céu da ONU, não o do Apocalipse.

A Nova Religião da Terra

Enquanto os fiéis rezam pelos mortos, a hierarquia planta árvores. Bispos promovem “Domingos da Ecologia”, celebram “liturgias indígenas” e chamam de “espírito do Criador” o que outrora se chamava paganismo.

A nova Igreja não fala mais de redenção, mas de sustentabilidade. A cruz é substituída pelo painel solar; o altar, pela “mesa da partilha”. O pecado estrutural substitui o pessoal. A criação substitui o Criador.

E o mais trágico é que tudo isso é feito em nome de Cristo — um Cristo reinventado, reciclável, ecológico, “sinodal”. Ele já não reina; apenas “inspira processos”.

Mas a Fé, irmãos, não é um processo. É um depósito. E um depósito não se reinventa — guarda-se. São Paulo não pediu criatividade; pediu fidelidade.

O Cemitério dos Dogmas

Nas palavras de Leão XIV, “não devemos permanecer presos ao passado”. Mas o que é o passado da Igreja, senão a própria Revelação? Quando ele diz “comemorar o futuro”, está, de fato, enterrando a Tradição — e chamando isso de esperança.

Em Verano, os túmulos falavam mais do que a homilia. As pedras frias lembravam que a Igreja sempre rezou pelos mortos porque crê na justiça e na misericórdia de Deus. Mas Leão preferiu falar de “beleza” e “reconhecimento”. Que ironia: o papa dos vivos esqueceu os mortos — e, ao fazer isso, esqueceu o Céu.

O modernismo é assim: constrói monumentos para o amanhã, enquanto profana os altares de ontem. “Comemorar o futuro” é o epitáfio perfeito de uma Igreja que já não acredita no juízo final.

A Esperança que Renasce do Fogo

Mas mesmo entre ruínas, a Tradição não morre. Cada Missa Tridentina celebrada em silêncio, cada fiel que reza por suas almas do purgatório, cada confissão feita com lágrimas é um ato de resistência contra a Igreja que se tornou sua própria caricatura.

O modernismo fala de inclusão, mas exclui o sobrenatural. Fala de misericórdia, mas tem horror à penitência. Fala de amor, mas teme a Verdade. Por isso, está condenado a fenecer: porque esqueceu a linguagem da eternidade.

A Igreja verdadeira não comemora o futuro — ela o julga à luz de Deus. A Igreja verdadeira não celebra “diferenças”, mas a conversão dos pecadores. A Igreja verdadeira não busca relevância — busca santidade.

E quando o último microfone sinodal se calar, quando a fumaça das modas passar, restará o mesmo altar, o mesmo latim, o mesmo Cordeiro. E nesse silêncio antigo, o mundo inteiro voltará a ouvir: “Introibo ad altare Dei.”

Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial do Brasil e do Mundo.