Francisco de Yepes: humildade e santidade simples

São João da Cruz e Francisco de Yepes

Francisco de Yepes, irmão do grande místico São João da Cruz, foi um homem simples cuja vida se movia entre a pobreza, o trabalho manual e uma fé profunda. Embora nunca tenha alcançado a fama de seu irmão, sua figura deixou marca em seu tempo como exemplo de uma santidade silenciosa, humilde e profundamente humana.

Membro da Ordem Terceira do Carmo, viveu como leigo comprometido com os valores do Evangelho. Esforçava-se por se sustentar com o trabalho de suas mãos – tecia buratos (tecidos em rede) – e, durante anos, manteve a si mesmo e à sua família com esforço honesto. Tudo isso unido à oração, à esmola e ao cuidado dos pobres. Nos tempos de frio, era visto à noite com uma lanterna recolhendo os abandonados nas ruas para levá-los ao hospital ou até mesmo para sua própria casa. Sua caridade não era teoria, mas ação concreta e cotidiana.

Francisco não foi teólogo nem mártir, mas um homem comum que buscou viver sua fé com coerência. Seu confessor, o padre jesuíta Caro, chegou a dizer dele: “Francisco de Yepes é tão santo quanto seu irmão”. Essa afirmação resume o que muitos pensavam: que em sua humildade, obediência e perseverança diária escondia-se uma verdadeira santidade.

Entre os episódios mais comoventes de sua biografia está o testemunho partilhado com São João da Cruz: ambos afirmaram ter visto, em visão mística, sua mãe já falecida, gloriosa no céu, vestida de branco e acompanhada por anjos. Essa experiência não apenas fortaleceu a fé de Francisco, como alimentou a certeza de seu caminho espiritual, em sintonia com o de seu santo irmão.

Hoje, sua vida nos provoca com uma pergunta: será que a verdadeira santidade não está justamente na fidelidade simples do dia a dia, mais do que em gestos extraordinários? Francisco de Yepes, sem grandezas nem milagres, nos deixa o testemunho de uma fé que transforma a vida a partir do mais simples.

Texto baseado no artigo de Pablo María Garrido, O. Carm., “Francisco de Yepes, irmão de São João da Cruz, pícaro ou santo?”, publicado na revista Monte Carmelo, n.º 1, vol. 102, 1994.