Teresa de Jesus e o Menino que desce a escada

Eu sou Jesus de Teresa

É uma das mais antigas “florezinhas teresianas” que nos conta que, certa vez, estava a Santa no Mosteiro da Encarnação. E ao subir a grande escadaria conventual, de repente, deu de cara com o Menino Jesus em pessoa.

O Menino perguntou a Teresa:

– Como te chamas?

Ela respondeu:

– Teresa de Jesus. E Tu?

Ele respondeu:

– Eu, Jesus de Teresa.

Até hoje, no mesmo patamar da escada da Encarnação, os turistas podem ver encenado esse delicioso episódio.

De fato, a partir daí, ela já não assinará mais como Teresa de Ahumada. Nem mesmo nos documentos oficiais: nem nos livros da casa, nem diante de notários ou escrivães. Daí em diante, ela se assinará apenas e sempre: Teresa de Jesus.

Houve um momento em que ela mesma tomou plena consciência de que já era de Outro! E para celebrar isso, compôs um poema, profundo e comovente, que começa assim:

“Vossa sou, para Vós nasci! Que mandais fazer de mim?”

A Santa Teresa foram dados inúmeros títulos ao longo da história. Entre eles, o mais proeminente é o de “doutora mística”, “doutora da Igreja”; também a chamamos de “grande mulher”, “mulher forte”, “mestra dos espirituais”, “Teresa, a de Ávila”. Contudo, seu melhor título é aquele que ela mesma escolheu: “de Jesus”, porque toda sua vida foi um constante configurar-se com seu Redentor e Salvador, com o Deus Amigo e próximo, com o Jesus humano que transformou sua vida... esse Jesus de quem ela sempre cantou as misericórdias, esse Jesus de Teresa, que a todos chama, que nunca se cansa de dar, e que ela aponta constantemente a todos que se aproximam dela...

Meus irmãos e irmãs,

Hoje vamos meditar sobre uma das mais doces e profundas histórias da tradição carmelita: o encontro de Santa Teresa de Jesus com o Menino Jesus nas escadas do mosteiro da Encarnação. Pode parecer singelo, quase poético demais para os nossos tempos acelerados, mas preste atenção: aqui há um ensinamento místico e profundamente real. Aqui está a alma da vocação, da entrega total, da pertença radical a Cristo.

Imagine a cena: uma freira, austera, envolta em seu hábito simples, sobe as escadas silenciosas do convento. Nas mãos, uma lamparina. No coração, oração. De repente, ali, na quietude, aparece Ele — o Menino Jesus. E não como metáfora ou sonho, mas real, em carne gloriosa. Ele olha para ela e pergunta:

— “Como te chamas?”

Ela responde com aquela firmeza que só os santos possuem:

— “Teresa de Jesus.”

E Ele retruca com um sorriso divino, como só Deus sabe sorrir:

— “Eu, Jesus de Teresa.”

Aqui, irmãos, não é só uma anedota teresiana. É o selo definitivo da consagração. É o momento em que Teresa deixa de ser filha de Ahumada e se torna filha do Altíssimo. Ela muda de sobrenome, sim — mas muda, sobretudo, de dono. E mais: Deus aceita pertencer a ela também. Porque quando nos entregamos a Deus de verdade, Ele se entrega também, sem reservas.

1. A vocação é pertença

Ser de Jesus não é frase de camiseta de grupo de jovens. É entrega total. Teresa entende isso profundamente. Por isso, nunca mais assinará “Teresa de Ahumada”. Nem em registros civis, nem em documentos jurídicos. Porque seu nome agora é testemunho:

➡️ Teresa de Jesus — e ponto final.

Você, batizado, crismado, consagrado, pode dizer o mesmo? Teu nome é só registro civil ou é bandeira de pertença?

2. Deus se deixa possuir

“Jesus de Teresa”. Pensa nisso. O Senhor do Universo — “o Inefável, o Imenso, o Inacessível” — se faz propriedade afetiva e espiritual de uma carmelita. E isso não é exagero piedoso. Isso é o que está escrito no DNA do Evangelho: Deus se faz próximo, íntimo, amigo. Como disse a própria Santa:

“Trata-se de um trato de amizade com Aquele que sabemos que nos ama.”

3. O amor se expressa na obediência

Teresa celebra esse momento com um poema que deveria ser cantado nos púlpitos:

“Vossa sou, para Vós nasci! Que mandais fazer de mim?”

Essa é a alma da mística católica: pertencer a Alguém que nos ama mais do que nós mesmos nos amamos. A vida espiritual não é uma fuga do mundo, mas uma doação corajosa. Não é sentimentalismo, é decisão. Teresa foi forte, foi reformadora, enfrentou resistências de todos os lados — e sempre com aquele olhar firme em Cristo.

Conclusão

Se Santa Teresa de Jesus pôde mudar sua identidade por causa de um encontro com o Menino, e se Deus não teve vergonha de ser chamado “Jesus de Teresa” — então eu te pergunto, o que te impede de ser, radicalmente, “de Jesus”?

Chega de Cristianismo de fachada, de fé morna, de espiritualidade de fim de semana. Ou somos de Jesus — com nome, com vida, com coração e com cruz — ou estamos perdendo tempo.

Seja de Jesus. E permita, com humildade, que Ele também seja “teu”.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.