Papa Leão XIV: Quem é, por que foi eleito e o que esperar

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Sacada da Basílica de São Pedro


O Cardeal Robert F. Prevost foi eleito Papa na quarta votação — um resultado rápido, como muitos esperavam, mas não para ele. O que devemos esperar? Dizia-se que não haveria outro Papa sul-americano, mas aqui estamos: um peruano — não de nascimento —, certamente por formação e adoção. Ele parece ser um Papa gentil, um diplomata. Três princípios norteadores o definem: unidade dentro da Igreja, paz no mundo e justiça social. No entanto, ele também carrega vulnerabilidades significativas que podem ser exploradas por aqueles hostis a Cristo.

Na quinta-feira, 8 de maio de 2025, os Cardeais elegeram Robert F. Prevost como Papa — um frade agostiniano que servia como prefeito do Dicastério para os Bispos desde 12 de abril de 2023, sob o Papa Francisco. Ele escolheu o nome Leão, uma escolha profundamente enraizada na tradição católica.

O dia 8 de maio tem forte significado simbólico para os católicos: é a festa de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia e também comemora a aparição de São Miguel no Monte Gargano, na Itália, no longínquo ano de 490 d.C. Além disso, o conclave de 2025 começou em 7 de maio, coincidindo com a tradicional festa móvel do patrocínio universal de São José sobre a Igreja. Essas três celebrações estão relacionadas ao triunfo da Igreja sobre seus adversários.

O nome de Prevost não figurava entre os candidatos mais esperados, tornando sua eleição uma verdadeira surpresa para muitos. A maioria esperava a eleição imediata de Pietro Parolin ou, no caso de um conclave prolongado, uma mudança para um Cardeal com perfil semelhante ao do ex-secretário de Estado, mas com imagem política menos complexa, como o Patriarca de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa.

Ratzinger foi o sucessor natural de João Paulo II. Prevost, embora também um sucessor “natural” plausível de Francisco, se encaixa mais no perfil de um Papa convergente. Isso significa que, apesar de partirem de posições diversas ou até conflitantes, os cardeais eleitores viam no Cardeal americano o candidato capaz de unir as diferentes correntes dentro da Igreja.

Seria Prevost um Papa conciliador, como alguns sugeriram? Parece improvável, especialmente considerando a velocidade com que foi eleito. Os Cardeais garantiram pelo menos dois terços dos votos no quarto escrutínio, indicando que Prevost não foi uma escolha improvisada após tentativas frustradas de mediação entre facções opostas.

Por exemplo, Karol Wojtyła foi um candidato de compromisso, eleito após oito votações para romper o impasse entre o conservador Giuseppe Siri e o liberal Giovanni Benelli. Em contraste, Ratzinger — assim como Prevost — foi eleito após apenas quatro votações.

Seu nome e o amplo consenso resultante provavelmente surgiram já nas Congregações Gerais que antecederam o Conclave.

Antes e durante o Conclave, discutia-se com frequência que havia chegado o momento de eleger um Papa italiano, em parte para restaurar a credibilidade da Cúria Romana, enfraquecida pela governança centralizada de Francisco. Também se previa que, após um Pontífice argentino, seria improvável que outro sul-americano fosse eleito. Ambas as previsões se mostraram imprecisas ou, no mínimo, parcialmente corretas. Prevost não é italiano, mas possui cidadania peruana, o que o torna sul-americano, se não por nascimento, certamente por formação e adoção.

Na mentalidade de um Padre americano médio formado após o Concílio Vaticano II, o nome Leão evoca essencialmente dois conceitos: pacifismo e doutrina social.

Prevost apareceu trajando vestes papais tradicionais — uma cruz peitoral em estilo relicário, estola papal e mozeta vermelha — revivendo uma estética romana que Francisco havia interrompido, senão abandonado por completo. O nome escolhido, Leão, evoca fortemente a Tradição Católica. Muitos católicos conservadores e tradicionalistas, impressionados com esses elementos, expressaram nas últimas horas um entusiasmo repentino. Em situações como essa, é natural que a emoção prevaleça sobre a análise racional.

Embora Leão seja um nome papal altamente tradicional, devemos evitar interpretá-lo a partir da perspectiva de um progressista comum. Em vez disso, devemos buscar compreender a mentalidade do próprio eleito. Prevost, afinal, tem sido até aqui considerado moderadamente progressista. O nome Leão, para ele, remete a duas figuras históricas: São Leão Magno, o Papa que enfrentou Átila, o Huno, e Leão XIII, associado à inauguração da doutrina social da Igreja — embora suas raízes já estivessem em documentos anteriores, como a Unam Sanctam, de Bonifácio VIII.

Por que Prevost foi eleito?

Paz e justiça — ou seja, doutrina social — provavelmente serão dois dos três pilares do pontificado de Leão XIV. Isso ficou evidente desde as primeiras palavras que ele proferiu da sacada:

“A paz esteja convosco! (...) Esta é a paz de Cristo ressuscitado: uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante (...) Deus ama a todos vocês, e o mal não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos, de mãos dadas com Deus e uns com os outros, sigamos em frente (...) Eles me escolheram para ser o sucessor de Pedro e para caminhar com vocês como uma Igreja unida, sempre buscando a paz e a justiça.”

Um aspecto particularmente positivo do discurso inaugural do Papa Leão XIV é que, embora ele mencione Francisco — como ao falar da necessidade de “construir pontes” de diálogo — ele insere esse conceito em uma moldura mais ortodoxa:

“Cristo vai à nossa frente. O mundo precisa de sua luz. A humanidade precisa d’Ele como ponte para ser alcançada por Deus e por Seu amor.”

Quase como a dizer: as pontes são boas, mas há apenas uma verdadeira — Jesus Cristo.

Outro ponto marcante é sua ênfase na dimensão missionária da Igreja:

“Quero também agradecer a todos os meus irmãos Cardeais que me escolheram para ser o sucessor de Pedro e caminhar juntos como uma Igreja unida para proclamar o Evangelho, para sermos missionários.”

E ainda:

“Devemos buscar juntos como ser uma Igreja missionária” e “Rezemos juntos por esta nova missão, por toda a Igreja, pela paz mundial, e peçamos esta graça especial de Maria, nossa Mãe.”

Enquanto buscavam um Papa que pudesse mediar a justiça e a paz no mundo, os Cardeais também procuravam alguém capaz de mediar a unidade dentro da Igreja — o terceiro pilar do novo pontificado.

Durante a Missa Pro Ecclesia, que encerrou o conclave na Capela Sistina em 9 de maio, o Papa recém-eleito enfatizou repetidamente conceitos como santidade e o caminho para a santidade — temas menos abordados nos últimos anos.

Prevost é notoriamente reservado. Aqueles que o conheceram no Peru ou no Vaticano o descrevem como gentil, tranquilo, reflexivo e aberto ao diálogo.

Dentro do Conclave

O que aconteceu durante o conclave? Se a eleição de Prevost não foi acidental, como sugere sua rapidez, e se a maioria dos eleitores foi nomeada por Francisco, é possível vislumbrar um plano estratégico?

Três cenários se delineiam:

  1. Plano B de Parolin — Prevost teria sido uma alternativa caso Parolin não reunisse o quórum. Se isso for verdade, o sorriso de Parolin na sacada papal pode indicar que vê em Prevost alguém simpático às suas ideias eclesiásticas. Após conquistar o apoio dos americanos, os votos decisivos teriam vindo de Cardeais asiáticos e africanos — os mesmos que Parolin não conseguiu atrair.
  2. Orquestração por Versaldi — O cardeal italiano Giuseppe Versaldi, figura de destaque da Cúria, pode ter promovido silenciosamente Prevost entre os Bispos italianos, garantindo-lhe autoridade e visibilidade. Seu perfil discreto, espiritual, mas diplomático o tornaria uma alternativa viável.
  3. Influência de Dolan — O Cardeal Timothy Dolan, de Nova Iorque, teria sido o verdadeiro articulador da candidatura, como foi com Francisco em 2013. Ele teria unificado a divisão na Igreja americana e promovido Prevost como uma figura de síntese entre os últimos três pontificados.

Há rumores de que a Santa Sé recebeu uma doação significativa — 14 milhões de dólares — do presidente Trump por ocasião do funeral de Francisco, o que teria contribuído para suavizar a crise orçamentária da Cúria. A proximidade entre Dolan e Trump também levanta especulações.

A posição de Leão XIV sobre questões-chave — como a Fiducia supplicans, a Traditionis custodes, ou os acordos secretos com a China — ainda não é clara.

Quem foi Prevost antes do Pontificado

Robert F. Prevost manteve-se longe dos holofotes durante toda a sua vida. Um sinal encorajador, após doze anos de exposição midiática. Até agora, alinhou-se a muitas das visões de Francisco, especialmente em temas como ecologia, imigração e pobreza. Apoiou a prática de conceder a comunhão a divorciados recasados e é claramente favorável à sinodalização da Igreja — ponto de apreensão para muitos fiéis.

Há, contudo, um último aspecto crucial a considerar sobre Robert F. Prevost — uma questão de grande preocupação. Após anos em que a Igreja foi abalada por escândalos de abuso sexual, o novo Papa traz consigo acusações sérias de possível encobrimento. Fontes indicam que tais alegações remontam ao seu mandato como bispo de Chiclayo, no Peru, entre 2006 e 2010, durante o qual ele teria supostamente protegido dois sacerdotes locais acusados de abuso. Questionamentos também recaem sobre sua atuação anterior como Provincial dos Agostinianos em Chicago, onde surge o nome de seu amigo e padrinho eclesiástico, o Cardeal Blase Joseph Cupich, como figura de influência em possíveis omissões.

Ainda não está claro se essas denúncias têm fundamento ou se consistem em tentativas de desmoralizar um prelado influente. O tempo e a transparência — que o novo pontificado certamente será chamado a demonstrar — dirão se tais acusações merecem crédito ou não.

Considerações Finais

O pontificado de Robert Francis Prevost começa com esperanças e interrogações. Sua experiência missionária, formação clássica e trajetória na Cúria indicam um pastor culto, com espírito de serviço e abertura ao diálogo. Ao mesmo tempo, sua proximidade com setores polêmicos do episcopado norte-americano, bem como as acusações pendentes, exigem vigilância e discernimento.

O povo fiel, com razão, espera de um Papa firmeza na doutrina, coragem diante das crises morais e fidelidade à Tradição da Igreja. Que o novo Sucessor de Pedro receba a graça de corresponder à altura dessa missão divina.

Ir. Alan Lucas de Lima, OTC 
Carmelita Secular da Antiga Observância 

Referências Bibliográficas

  • Vatican News. “Robert Francis Prevost: quem é o novo prefeito da Congregação para os Bispos”. Acessado em abril de 2025.
  • Catholic News Agency. “Bishop Prevost’s Past in Peru and His Role in the Vatican”. CNA Archives, 2024.
  • National Catholic Reporter. “Cardinal Cupich and the Future of the American Church”. NCR, 2023.
  • Infovaticana. “El obispo Robert Prevost y las denuncias en Chiclayo”. Infovaticana, 2024.
  • Congregatio pro Episcopis. “Biografia oficial do Cardeal Robert F. Prevost”. Vaticano, 2022.
  • The Pillar Catholic. “Prevost, Cupich, and Clergy Abuse Questions”. The Pillar, fevereiro de 2025.