Crônica: Quando o Leão Disse “A Paz”
Habemus Papam. E o tempo, mais uma vez, parou. A
fumaça branca cortou o céu romano, e o nome que saiu pela boca do Cardeal
Diácono foi um trovão suave: Leão XIV. Um nome que pesa. Um nome que
arde. Um nome que lembra ao mundo que a Igreja ainda sabe rugir.
E quando ele apareceu naquela sacada, não veio nu como
certos modernistas gostariam, nem vestido como um gerente de ONG. Veio revestido.
Moztetta vermelha. Estola romana. A tradição, antes escanteada, pisava de novo
o mármore da loggia de São Pedro. Nada de minimalismo litúrgico. Nada de
ambiguidade. Aquilo era um sinal. E dos grandes.
Mas então, o que ele disse?
“A paz esteja com todos vocês.” — assim começou. Não com
piadas. Não com apelos à Terra. Mas com o eco da primeira saudação do Cristo
Ressuscitado. O novo Papa não começou com ideias próprias. Começou com as
palavras do Salvador. E isso, meus caros, já é milagre.
Ele falou da paz de Cristo — aquela que desarma sem fuzis e
reina sem ceder. Mencionou Francisco com ternura, mas sem bajulação. E
proclamou: “O mal não prevalecerá.” Não como um político otimista, mas
como quem sabe que a vitória final já aconteceu no Calvário. E que o
sangue dos mártires, não os sorrisos diplomáticos, é a semente dos séculos.
Agradeceu aos cardeais. Falou como bispo com o povo. Lembrou
Chiclayo, sua diocese no Peru, com carinho quase paterno. Mas foi quando citou
Santo Agostinho — “com vocês sou cristão, para vocês, bispo” — que algo se
acendeu. Ali estava um agostiniano que sabe o que carrega nos ombros. Um filho
do Norte da África espiritual, onde fé e razão se fundem como azeite e fogo.
Agora, sim, dá pra respirar fundo e perguntar: será ele o
Papa da restauração?
Não sabemos. Não canonizemos ninguém na primeira benção Urbi
et Orbi. O Espírito Santo sopra — mas já vimos muita fumaça estranha saindo
das sacristias. Ele tem 69 anos. Pode ter duas décadas de pontificado. E entre
o aplauso de hoje e o juízo da eternidade, cabe uma eternidade de escolhas.
Mas temos algo a nosso favor: ele carrega o nome Leão.
E todo Leão que a história conheceu veio para lutar. Leão Magno enfrentou
Átila. Leão II calou heresias. Leão XIII nos deu o tomismo de volta, como quem
oferece pão a uma Europa faminta.
E se este Leão corresponder? Ah… então veremos não uma
revolução, mas uma restituição. Uma Igreja que não se envergonha de sua
Tradição. Que celebra como sempre celebrou. Que fala como sempre falou. Que
para de pedir desculpas por ser quem é.
E se não corresponder? Continuamos. Porque a Igreja não
depende de um homem só. Ela é feita dos santos escondidos, das velhinhas que
rezam o terço, dos monges silenciosos, dos jovens que redescobrem a tradição
como quem reencontra o próprio nome.
O nosso trabalho? Rezar. Vigiar. Jejuar. Esperar. Lutar.
Porque o campo de batalha é invisível, mas a guerra é real. E o nome de quem
está no comando pode até mudar — mas o Comandante verdadeiro é sempre Cristo.
Leão XIV pode rugir. Pode calar. Pode restaurar. Pode
falhar. Mas a verdade? A verdade não depende dele.
E se — e esse “se” é grande como a cúpula de São Pedro — se
este novo Leão decidir realmente ser Leão, então talvez estejamos vendo o
retorno de Roma.
Não como centro turístico.
Mas como Trono da Verdade.