Centenário de Canonização de Teresinha: O Amor que Revoluciona o Mundo
À primeira vista, quando o nome Teresa surge, é fácil cair naquela armadilha de repetir o que todo mundo sabe: ela orava, se sacrificava, tinha devoção à Eucaristia... tudo isso é lindo, mas é o mínimo, o básico do básico, tipo os contornos genéricos que todo santo carrega. O perigo está aí — reduzir a grandeza de um santo a esse amontoado de palavras que valem para qualquer figura devota, e perder o que a torna única, a sua verdadeira missão.
Cada santo é um projeto divino, uma palavra viva do Pai no
meio da história. A santidade não é só um pacote de virtudes, é um reflexo
particular do Evangelho num momento e lugar específicos. Por isso, o olhar
atento não pode ficar só na superfície, nos atos isolados, nas frases soltas.
Porque, pasme, santo também tropeça, erra, nem sempre é perfeito no que fala ou
faz.
O que importa, o que realmente conta, é a totalidade da vida
— o trajeto inteiro de santificação, a figura que emerge inteira, como um
mosaico onde cada peça faz sentido no conjunto, e revela Jesus Cristo sob um
aspecto novo. Teresinha é mestre nisso: a “Doutora da síntese” que, na aparente
pequenez da sua vida, condensa uma mensagem monumental.
E é aqui que mora a beleza da sua santidade — na “pequena
grandeza” que atravessa séculos e chega até nós, intacta, provocadora. Numa
época que quer fechar tudo em bolhas egoístas, Teresinha surge como um convite
claro: a vida só vale se for dom, entrega, doação pura.
Ela viveu num tempo — e, olha só, que tempo não é esse que a
gente encara hoje — marcado pelo egoísmo, pelo individualismo feroz, pela busca
desenfreada por status, poder e influência. Contra essa maré, Teresinha aponta
pra via contrária: a via da humildade radical, da pequenez voluntária, da
santidade que se esconde nos gestos simples.
Quando o mundo descarta gente feito resto, lixo sem valor,
ela se levanta para mostrar que o cuidado, o olhar amoroso para o outro, é a
revolução mais poderosa que existe. Essa é a santidade que desafia a lógica do
descarte e do indiferente.
E num tempo em que o cristianismo pode se enrijecer, preso
em legalismos, obrigações e regras que mais congelam do que libertam, Teresinha
reaparece com sua simplicidade desnuda — o amor que confia, que se abandona,
que é alegria pura do Evangelho. Ela nos sussurra que a santidade não é um
fardo pesado, mas um voo leve no amor divino.
Hoje, quando tantas vozes pregam o fechamento, a rejeição do
outro, a construção de muros e trincheiras, essa santa pequenina é grito para
sair, para ir ao encontro, para ser missão ardente, conquistados pela beleza
irresistível de Jesus Cristo.
No centenário da sua canonização, mais do que lembrar, somos
chamados a imitar. A aprender que a santidade não está na grandiosidade do
mundo, mas na entrega silenciosa, no amor que se doa sem esperar retorno, na
vida feita presente constante do Evangelho.
Teresinha é um sinal que atravessa os séculos e nos lembra
que, no fim, só o amor importa — o amor humilde, pequeno, radical. E nisso ela
nos supera a todos, porque foi grande justamente por ser pequena.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.