Escapulário: sinal de esperança ou ignorância?


Lembrando de São Simão Stock, quero partilhar uma angústia que, talvez, esteja presente nessa alma bendita que já goza dos bens eternos. Se não é possível isso acontecer devido à realidade do Céu, é razoável, nós, aqui da terra, não ficarmos acomodados perante o que muitos cristãos católicos estão fazendo com o Escapulário, que nos foi dado do Céu, pelas mãos da Santíssima Virgem do Carmo, em uma aparição a São Simão.
Mas a culpa é da própria Igreja! Para os bons na mira, peço que deixemos a Santa Igreja um pouco em paz, com as pedras no chão, e vamos juntos tocar um pouco na realidade que envolveu e, ainda circunda, esse objeto religioso tão difundido no meio religioso e civil.

O Sagrado Escapulário não é fetiche

Primeiramente, o Sagrado Escapulário não faz parte do fetichismo reinante! Segundo, no dicionário Aurélio, o fetichismo consiste na “adoração ou culto de fetiches”, que, por sua vez, são “objetos animados ou inanimados feitos pelo homem ou produzidos pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto”. Ele faz parte de uma história vivida pela Igreja, através da Ordem Carmelita.
O surgimento da Ordem Carmelita está intimamente ligada ao Monte Carmelo, localizado entre Samaria e a Galileia, na Terra Santa, que foi cenário dos prodígios de Deus realizados por meio dos profetas bíblicos, Elias e Elizeu. Lugar de uma prefiguração mariana, talvez, a mais antiga; além da maravilhosa manifestação de Deus, pois o Senhor fez cair um fogo que consumiu o que fora apresentado em oração pelo profeta Elias. Dessa maneira, ocorreu a vitória de Deus sobre os quatrocentos e cinquenta profetas da divindade pagã Baal (cf. 1Rs 18). O mesmo prodígio, o Senhor, em sua infinita misericórdia e sabedoria, não realizou na era cristã quando religiosos não cristãos conquistaram a Terra Santa, mataram e perseguiram os eremitas do Carmelo.
Foi dentro deste contexto dramático de perseguição que o Sagrado Escapulário surgiu e se difundiu, e não em meio à necessidade de um modismo religioso que promova lucro e fetichismo. Então, quando e como aconteceu? Fugidos do Oriente e já instalados no Ocidente, Nossa Senhora, no dia 16 de julho de 1251, apareceu para São Simão Stock, que orava em seu Convento Carmelita, em Cambridge, na Inglaterra, como um outro Elias a clamar pela manifestação de Deus e a proteção da Virgem para a perseguida Ordem.

O Escapulário é sinal de serviço religioso

Maria apareceu com o Escapulário na mão e diz-lhe: “Recebe, meu filho, este Escapulário da tua Ordem, que será o penhor do privilégio que eu alcancei para ti e para todos os filhos do Carmo. Todo o que morrer com este Escapulário será preservado do fogo eterno. É, pois, um sinal de salvação, uma defesa nos perigos e um penhor da minha especial proteção”.
Desse modo, o Escapulário sempre foi sinal de serviço para as Congregações que o utilizam como parte da veste religiosa, passou a ser para a família Carmelita um sinal de salvação de Deus, por meio da Virgem do Carmo. As graças que Maria concede, por vontade do Senhor, são: proteção da Santíssima Virgem durante a vida e a salvação na hora da morte. Portanto, para isso, deve-se: ter sido abençoado, colocado por um Sacerdote, trazê-lo piedosamente durante toda a vida.
Então, é somente isso para eu ter a proteção de Maria e ser salvo do fogo do inferno? Por parte do Sagrado Escapulário, sim! Mas, por nossa parte, alerta-nos o Papa Pio XII: “O Sagrado Escapulário, como veste mariana, é penhor e sinal da proteção de Deus, mas não julgue quem o usar, pode conseguir a vida eterna abandonando-se à indolência e à preguiça espiritual”.
Ou seja, viver no pecado, mesmo com o Escapulário, é semelhante ao estar na chuva, querendo se lavar, mas sustentando sobre si um enorme guarda-chuva aberto. Por isso, de modo algum, a Igreja Católica teria coragem de apresentar aos seus filhos um Escapulário que representasse um sinal verde para vivermos no pecado, sem o devido zelo pela nossa salvação eterna.

Você teria coragem? Você assinaria uma carta branca para outros pecarem? Nem eu! Muito menos a Virgem Maria, que é modelo e espelho desta Igreja Santa que foi fundada pelo Senhor para nos apresentar os meios que necessitamos para passarmos pela porta estreita da salvação, com mais esperança e não com menos sacrifício.
Padre Fernando Santamaria


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