As desgraças não são castigos, são caminhos


Importa que aceitemos que é impossível viver longe do sofrimento. As dores fazem parte da estrutura da nossa existência. As histórias concretas e individuais de cada um de nós são compostas de espaços e tempos onde a alegria apenas se faz presente através da esperança. São pedaços do que somos, tão preciosos quanto os outros mais brilhantes.

É curioso que seja a nossa fragilidade a permitir que nos aproximemos uns dos outros. Afinal, nenhum de nós tem uma vida isenta de amarguras. Por isso, é o nosso próprio rosto que vemos quando olhamos para alguém em busca do seu coração, seja quem for, rico ou pobre, velho ou novo, é sempre o nosso rosto que vemos.

No fundo do nosso ser, no mais íntimo da nossa intimidade, somos tão fracos quanto fortes, somos um equilíbrio que não se quer perder, somos alguém que precisa dos outros para saber quem é e para poder ser quem é. Precisamos dos outros para nos vermos, tal como somos, no melhor e no pior.

A desgraça do outro não me é estranha, as suas dores também chegam a mim. E é esse sofrimento que partilhamos que é o caminho que nos leva uns aos outros. É essa mesma fragilidade que se encontra em todos nós que nos faz irmãos que, por diferentes caminhos, buscam o mesmo fim.

É possível agradecer uma desgraça, não pela maldade que traz consigo, mas por toda a bondade que desperta em nós e naqueles que estão à nossa volta.

Somos responsáveis uns pelos outros. Ninguém deve deixar de estar no nosso horizonte. Por maior que seja a sua miséria, nunca será um miserável, porque enquanto puder sofrer ainda pode muito.

O sentido, a força e a fortaleza da vida dependem da capacidade que temos de derrotar o nosso natural egoísmo e amar, mesmo que contra tudo o que parece lógico.

Por José Luís Nunes Martins


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