O Novo Homem e o Deus Esquecido

Dizem que estamos num tempo de renascimento. Chamam de “Reborn”,
como se bastasse um update de software existencial pra curar a
alma humana. Jogam fora o manual antigo — a Escritura — e tentam escrever um
novo evangelho, feito de likes, hashtags e indignações seletivas.
Mas esse novo nascimento não vem do alto. Vem de baixo.
Não tem céu, não tem cruz, não tem sangue. Só tem
autoafirmação e identidades que mudam como quem troca o nome no Instagram.
O Novo Homem não nasce do barro moldado por Deus, mas
do barro das ideologias. Ele não é mais criatura — é projeto. Um experimento.
Um avatar fluido, que se reconstrói ao sabor das emoções do momento. Ele se
olha no espelho e não vê um filho de Deus, mas um produto de si mesmo.
É o Adão sem sopro. É o homem sem Pai.
E no meio disso, o feminino também foi sequestrado.
Chamaram Maria de oprimida e Eva de patriarcal. Dizem que a
mulher precisa se libertar da maternidade, da doçura, da entrega.
Transformaram o útero em peso, o lar em prisão, o amor em
fraqueza. O “feministo” é essa caricatura onde a mulher não floresce,
mas compete. Não gera, mas grita. Não acolhe, mas confronta.
A agenda woke chegou com promessas
messiânicas. Dizia: “vamos corrigir os erros do passado.”
Mas, como todo ídolo novo, exigiu sacrifícios:
A liberdade de expressão, a verdade objetiva, a fé pública e
até o senso comum.
E o altar do novo mundo é frio.
Não tem hóstia.
Tem hashtags.
Não tem arrependimento.
Só cancelamento.
Tudo é relativo. Exceto a própria agenda.
Nesse cenário, muitos acham que a Igreja Católica
ficou pra trás.
Mas talvez ela esteja justamente onde precisa estar: na
contramão.
Ela é a torre antiga que ainda resiste quando os palácios
modernos desmoronam.
É a voz que ainda diz “isso é pecado” quando o mundo diz
“isso é progresso”.
Ela ainda fala de céu e inferno, de alma e eternidade,
quando todo mundo só fala de corpo, prazer e direitos.
Chamam-na de rígida.
Mas talvez o mundo esteja só mole demais.
O Novo Homem esqueceu Deus.
Mas Deus não esqueceu o homem.
E talvez, no fim, quando todas as bandeiras forem queimadas
pelo fogo das próprias contradições, quando os slogans perderem o brilho
e a “nova humanidade” cair de joelhos diante do próprio vazio, vai restar só
uma coisa:
Um crucifixo.
E um coração inquieto que
sussurra:
“Senhor, para onde iremos? Só Tu tens palavras de vida
eterna.”
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.
Nota aos apressados, engraçadinhos e comentaristas de
rede social:
Antes de correr pro X (antigo Twitter), ou seja, lá qual for o templo do teu ego pra dizer que “a Igreja também errou”, que “nem todo feminismo é assim”, ou que “você não entendeu o verdadeiro woke”, respira fundo. Lê de novo. Talvez até reze. Esta crônica não é um manifesto, é um espelho. Se incomodou, ótimo: espelhos verdadeiros não bajulam. Mostram.
E se quiser responder, que seja com alma, não com emoji.