Leão XIV: o eco de um rugido antigo
Há momentos na História em que os nomes voltam não como mera repetição, mas
como resposta. Quando um homem se ergue e escolhe chamar-se Leão, não está
apenas fazendo referência a um predecessor; está invocando um espírito, um
legado, uma urgência. Leão XIII — esse foi o Papa que olhou de frente para
os fogos fumegantes das fábricas, para as mãos calejadas dos operários e
para os olhos vazios dos explorados, e ousou dizer que a Igreja tinha algo a
dizer ao mundo moderno. Era 1891, e o barulho das engrenagens da primeira
revolução industrial quase abafava o sussurro do Evangelho. Quase.
Mas agora, num tempo não menos convulso, outro Leão sente-se chamado a
continuar a caminhada. Não por vaidade de títulos, mas porque há uma linha —
tênue, invisível aos olhos apressados — que une as eras.
A revolução de hoje não tem fumaça de chaminés nem o cheiro de ferro
quente. Tem algoritmos. Tem códigos. Tem máquinas que aprendem, que veem,
que falam. Tem inteligências artificiais que simulam almas humanas — sem
alma. E de novo, a dignidade do homem está em risco. E de novo, a justiça
escorrega por entre os dedos. E de novo, o trabalho — esse sacramento
cotidiano — é ameaçado por mãos que não suam e cérebros que não dormem.
É nesse cenário que Leão XIV se levanta — ao menos em intenção. Não para
criar uma ruptura, mas para renovar o fio dourado da tradição. Ele sabe que
não há novidade que dispense a sabedoria do passado. Que a Igreja não deve
correr atrás do mundo como quem tenta alcançar um trem em movimento, mas
posicionar-se como farol — imóvel, firme, iluminando o caminho à
distância.
A Rerum novarum foi um sopro profético. Agora, pede-se outro. Porque
se há uma nova res novæ, há também uma necessidade de resposta — não
só técnica, não só ética, mas profundamente humana. E cristã.
Leão XIV — seja ele quem for — compreende que não se trata de nostalgia nem
de fetichismo pelo passado. Trata-se de reconhecer que algumas verdades são
eternas. Que a dignidade humana não é negociável. Que a justiça social não é
um projeto de governo, mas um dever moral. Que a técnica sem moralidade é
tirania com verniz de eficiência.
No rugido desse novo Leão, ouvimos um eco do antigo. E nele, talvez, uma chance de lembrar que, mesmo nas eras de silício e circuitos, o coração humano ainda busca sentido, redenção e verdade.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.