São João da Cruz explica, detalhadamente, como
a alma deve se comportar para aceitar esse grande dom de Deus e fazer uso dele
sem estragar a obra divina. É muito importante ter orientação e instrução
adequadas nos caminhos da oração contemplativa. De outro modo, seria quase
impossível evitar erros e obstáculos. A razão para isso é que,
independentemente de quão boas sejam as intenções da alma, a insensibilidade e
a inépsia que lhe são naturais impedem-na de perceber plenamente o significado
da delicada operação realizada pelo amor Divino em seu mais profundo interior.
Ela está, assim, impedida de cooperar com a ação divina.
A coisa mais importante de todas é alcançar alguma percepção do que Deus está
realizando em nossa alma. Aprender o tremendo valor dessa obscura luz da fé,
que às vezes nos crucifica e escurece e esvazia a mente de todas as convicções
naturais e leva a alma a domínios desconhecidos, para então conduzi-la ao
limiar de um verdadeiro contato experimental com o Deus vivo. São João da Cruz
não hesita em dizer que as trevas são causadas pela presença de Deus no
intelecto, cegando nossas potências finitas pelo brilho de sua realidade e
verdade infinita.
A experiência interior
(Martins Fontes, 2007) pág. 137
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