Após a pandemia, muitos cristãos que perderam o hábito de ir à igreja, tanto católicos como protestantes, provavelmente nem se darão ao trabalho de voltar. O fato não é muito difícil de prever, mas você… sabe dizer por que isso acontecerá?
— Padre, estamos preocupados com João… — Nesse momento, ela
olha para o marido em busca de apoio moral. — Estamos preocupados, não estamos,
querido?
Obediente, o marido assentiu.
— Entendi. Qual seria o problema? — perguntei.
— Estamos preocupados com a vida espiritual dele e achamos
que você poderia ajudar. João gosta do sr. e talvez o escute.
— Tudo bem. Farei o que puder. Poderiam me contar um pouco
mais?
— João declarou que não irá mais à igreja. — A
mãe começou a fungar.
— Vocês são presbiterianos, certo?
Isso mesmo, padre.
— Ele disse por que não quer mais ir à igreja?
Ele disse que pode ler a Bíblia e rezar da mesma forma em
seu quarto em casa — respondeu o pai.
—Entendo. — Reflito por um momento, e então respondo: — Bem,
João está certo, não?
Essa não foi a resposta que a mãe esperava. De repente,
demonstrando interesse, o pai se aproximou.
— O que quer dizer, padre? — diz a mãe, nervosa.
— Quero dizer que João está certo. Ele pode ficar em casa,
ler a Bíblia e rezar. Deixem-me perguntar uma coisa: a Igreja ensina que
devemos ir à igreja para chegar ao céu?
— Bem, não, não exatamente — disse a mãe, hesitante.
— Fui criado numa religião como a de vocês e, pelo que me
lembro, tudo o que temos a fazer é nos salvar, certo? Não precisamos ir à
igreja — acrescentei.
— Sim, acho que isso está certo. Mas João realmente deveria
ir à igreja conosco, não?
— Não me interpretem mal. Realmente acho que seria melhor
que João fosse à igreja do que ficar em casa. Mas ele é um garoto inteligente,
e acho que entendeu algo que é verdade. Nós católicos temos uma visão
diferente disso. Gostariam de saber mais?
Agora o pai fica realmente interessado e a mãe relaxada,
embora um tanto apreensiva. O pai respondeu: — Sim. Qual é a sua visão sobre
isso?
— Dizemos que um católico deve ir à igreja todo domingo
porque ele deveria aceitar o Senhor Jesus pela participação no Santo Sacrifício
da Missa, e não é possível fazer isso em casa ou por conta própria. É
necessário ter um sacerdote. No capítulo seis do Evangelho de João, Jesus diz:
“Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós mesmos” (Jo 6, 53). Portanto, para
chegar ao céu temos de ir à igreja. Por isso os católicos têm uma regra que
diz que devem ir à igreja.
O pai se inclina para frente: — Isso é muito interessante,
padre. Quero saber mais.
Naquele momento, a mãe interrompe a conversa, agradecendo-me
educadamente pela ajuda. Se não me falha a memória, João saiu da escola pouco
tempo depois.
O que irá perecer? A igreja da mãe de João, com sua
branda respeitabilidade e sua mensagem farisaica de justiça social.
Conto essa história porque tem circulado um bom número de artigos
sobre a Igreja e o período pós-pandemia. A maioria dos escritores previram que
muitos cristãos, tanto católicos como protestantes, que perderam o hábito de ir
à igreja provavelmente não voltarão. Acho que esses autores têm razão quanto a
isso. A Covid-19 por si só terá dado origem à Igreja mais reduzida,
menor e mais comprometida que Cardeal Ratzinger previu há algumas
décadas.
Embora essa previsão me pareça correta, muitos comentadores
não perceberam a razão por que está correta. Muitos cristãos, católicos e
protestantes, farão a si mesmos a mesma pergunta que João se fez e já terão a
resposta: “Igreja? Por que deveríamos nos preocupar?”
Esse monstro que está debaixo da cama é um deísmo moralista
e terapêutico. Por toda a América, ao longo das últimas cinco ou seis décadas,
os líderes cristãos substituíram de forma sorrateira a religião revelada,
sobrenatural e vital, isto é, o cristianismo autêntico, por uma religião
“placebo”. Como outros já observaram, o cristianismo falsificado se
resume a regras de respeitabilidade, a um código moral brando e à transformação
do mundo em um “lugar melhor”.
Como o cristianismo do século XXI foi transformado nesse
algodão doce, uma multidão de Joões concluiu que “não precisa” ir à Missa nesse
tipo de religião. Podem muito bem aprender como ser legal e respeitável em um
clube. Podem tornar o mundo um lugar melhor se sentirem vontade de trabalhar
como voluntários distribuindo sopão comunitário, ou podem se sentir
espiritualizados em relação ao “grande Espírito no Céu”, talvez depois de
acenderem uma vela perfumada ou de assistirem a um belo amanhecer. Por que
deveríamos acordar cedo aos domingos para nos deslocar até um auditório
monótono, a fim de cantar umas melodias bregas e artificiais sobre Jesus e,
então, escutar um discurso motivacional e medíocre, proferido por um pastor
obeso e idoso?
Eu estou com o João.
Atrás do possível (e talvez inevitável) colapso de
participação na igreja pós-pandemia está uma catastrófica perda de fé. Não se
trata apenas de um caso de perda individual da fé, mas da
apostasia de toda uma igreja cristã e de uma nação por terem se apaixonado por
um sucedâneo sentimentalista: clichês e lugares-comuns racionalistas que não só
não são o cristianismo, mas nem sequer constituem uma religião.
Em todas as suas formas, a religião sempre esteve
relacionada ao encontro do homem com o divino (em todas as épocas, lugares e
povos). Os astecas que decapitavam suas vítimas, os monges budistas que meditam
numa montanha sagrada, uma testemunha de Jeová que faz seu apostolado ou um
ritual amazônico oferecido à Pachamama, todas essas coisas dizem respeito a um
encontro com o “outro lado”. Os americanos deixarão de ir à igreja porque o que
lhes foi apresentado não é mais uma religião, e as pessoas não querem receber
falsas promessas. Elas não vão a uma churrascaria para comer hambúrguer de
soja.
O cristianismo falsificado se resume a regras de
respeitabilidade, a um código moral brando e à transformação do mundo em um
“lugar melhor”.
O elemento mais perturbador dessa má notícia é, pelo que me
parece, a aceitação dessa falsa versão do cristianismo por parte da maioria dos
católicos americanos. Pelo que pude observar na vida eclesial dos católicos —
desde o lamentável nível de catequese até o modernismo obstinado do clero e dos
acadêmicos —, o mesmo deísmo moralista e terapêutico se espalhou como um câncer
nocivo por toda a Igreja. Seria interessante perguntar aos católicos americanos
por que, exatamente, eles deveriam ir à igreja. Quantos
diriam: “Porque só lá eu posso receber o Corpo e o Sangue salvadores do meu
Senhor Jesus Cristo”?
O que sobreviverá a esse desastre? Estou convencido de que o
catolicismo da segunda metade do século XXI será místico, milagroso, ou não
será nada. Irá sobreviver a religião autêntica. O culto tradicional irá
sobreviver, mas não porque o sacerdote usa casula romana e barrete, ou porque
as mulheres se cobrem com véu na igreja. Irá sobreviver porque os
tradicionalistas creem no místico, no milagroso. A religião carismática da
África e da Ásia também sobreviverá, mas não porque eles cantam em línguas,
dançam ao som dos tambores da selva e escutam longos sermões. Sobreviverá
porque eles creem no místico, no mitológico e no milagroso.
O que irá perecer? A igreja da mãe de João, com sua branda
respeitabilidade e sua mensagem farisaica de justiça social. É essa a forma de
“cristianismo” — católico e protestante — que está nos estertores. Que descanse
em paz.
Por Pe. Dwight Longenecker
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