O Carmelo no dizer da Carmelita: Teresa do Menino Jesus
Ser Carmelita é viver em MISSÃO…
«Eu entrei no convento porque me encantavam os grandes
espaços, as paisagens imensas, os horizontes sem fronteiras… No Carmelo, os
grandes espaços são interiores…, são a imensidade dos votos. No Carmelo…o Amor
é maior que o mar e maior que o céu. As paredes do Carmelo são transparentes
aos olhos do coração.
O Carmelo permitia-me viver em África ou na Índia. Ao entrar
no Carmelo, eu entrei em todas as partes, na casa dos pobres e na casa dos
ricos, na casa dos que estavam longe e na casa dos que estavam mais próximo. No
Carmelo eliminam-se as fronteiras, estas são ilimitadas. Ao fazer-me carmelita,
fiz-me chinesa, indiana, japonesa, sou de todas as partes, sou de todo o mundo.
O meu coração é livre para ir a qualquer parte. O Amor faz com que lhe seja
possível dar a volta ao mundo. Tudo o que ocorre no mundo, ocorre no coração de
quem ama.
O mais pequeno sopro de amor escondido pode ser útil a todos
os que vivem entregues à ação. Ao entrar no Carmelo, eu anuncio o Amor nas
cinco partes do mundo, nas cidades mais remotas…eu sou missionária… e serei
missionária até ao fim do universo. Só o Amor é o caminho até ao extremo do
mundo.
Quando o coração se torna pobre, já não vive apegado à sua
casa, ao seu quarto, à sua rua, aos seus negócios: é livre…já pode partir. Pode
ir e vir. É um navio que solta as suas amarras. Pode ir mar adentro, pode
navegar até ao alto mar.»
Ao descobrir que a sua “Vocação é o Amor” ela compreende o
verdadeiro sentido da sua vocação contemplativa e como ela influi na Igreja e
no mundo. Compreende que ela não atua só, nem principalmente, através das
orações de intercessão, mas pela transformação do próprio ser na união cada vez
mais intima com Jesus. Essa mudança, que acontece em Teresa, e em cada vocação
contemplativa, estende-se misteriosamente a todos os membros do Corpo de
Místico, a toda a Igreja espalhada pelo mundo inteiro. Não sabemos nem o modo
nem a medida desta influência, mas a realidade fala por si mesma, e é certo que
existe uma mútua comunicação entre todos os membros. A sua vocação
contemplativa não é a de evangelizar mas a de purificar, a de santificar, a de
transformar a Igreja desde o interior, desde o coração, desde o Amor.
«Jesus foi mais misericordioso comigo do que com os seus
apóstolos, tomou Ele mesmo a rede, lançou-a e retirou-a cheia de peixes…Fez de
mim um pescador de almas. Senti um grande desejo de trabalhar pela conversão
dos pecadores, desejo que não tinha sentido tão vivamente» .
É assim que Santa Teresinha começa a descrever a sua
vocação. Vocação que é resposta ao grito de Jesus na cruz: “Tenho sede” e que
ecoava no seu coração, Estas palavras despertaram nela um fogo desconhecido e
muito vivo. Consumia-a o desejo de dar a beber a Jesus a tal ponto, que assumiu
em si mesma a sede Daquele que o seu coração amava. Isto é o bastante para que
se determine a ficar aos pés da Cruz para receber a graça e reparti-la por
todos. Ela propõe-se combater a heresia do seu tempo que é também a do
nosso: a indiferença de muitos à redenção realizada por Cristo.
Neste combate todas as carmelitas são solidárias e em
comunhão com Teresinha assumem a luta contra esta indiferença. E, tal como ela
assumem em si mesmas o desejo que Jesus tem de se encontrar com cada homem e
mulher do nosso tempo. Este desejo é o impulso amoroso que leva cada Irmã a
orar, a trabalhar e a sacrificar-se, fazendo da sua vida uma palavra viva do
Deus Vivo.
O lugar de cada carmelita é junto à Cruz, é aí que ela
recebe a graça que se converte em maternidade sobrenatural para todos os filhos
de Deus. Ela vive a sua maternidade espiritual unida a Maria, a Virgem
Sacerdotal, e participa da sua missão de mediadora da graça. Esta participação
permite-lhe viver o seu sacerdócio real, comum a todos os fieis, unido ao
sacerdócio ministerial de cada presbítero. Não só rezando por ele, mas estando
unida a ele por um vínculo muito estreito, porque o sacerdote é o primeiro
fruto da sua vocação missionária. É ele que fará da carmelita “mãe das almas”.
Teresa numa das suas cartas define a vocação missionária da
carmelita duma forma tão interpeladora quanto desafiante para cada uma de nós,
suas Irmãs: «A nossa vocação não é ir ceifar os campos das messes maduras.
Jesus não nos diz: “Baixai os olhos, olhai e ide ceifar.” A nossa missão é
ainda mais sublime. Eis aqui as palavras de Jesus: “Levantai os olhos e vede.”
Vede como no céu há lugares vazios; a vós toca-vos enchê-los. Vós sois o meu
Moisés orante na montanha: pedi-me operários e eu os enviarei; não espero mais
que uma oração, que um suspiro de vosso coração. (…) A nossa missão como
carmelitas é a de formar trabalhadores do Evangelho que salvem as almas, das
quais nós seremos mães. Parece-me tão bela a nossa missão!»
A vocação missionária da carmelita entendida assim é de uma
beleza rara. Beleza que a muitos atrai e fascina. Mas na realidade, a nossa
Grande Missionária, diz-nos que estar em missão no Carmelo é uma “luta dura”,
um “martírio doloroso”, que exige viver em pura fé.
«O martírio mais doloroso, o mais amado, é o nosso, porque
só Jesus o vê. Não será nunca revelado às criaturas da terra; mas quando o
Cordeiro abra o livro da vida, que admiração na corte celestial ao ouvir
proclamar, juntamente com o nome dos missionários e dos mártires, o nome de
umas pobres Irmãs que nunca fizeram coisas deslumbrantes!»
Ser Carmelita é viver em Missão! Não é ter apenas uma missão
para evangelizar, mas é tê-las todas.
Teresa do Menino Jesus e da Santa Face
24 anos
Carmelita do Carmelo de Lisieux
França
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