Como viver a espiritualidade carmelitana neste tempo de quarentena?
Irmãos do Carmelo, salve Maria! É uma alegria poder me reunir com todos por meio do site da Província de Santo Elias, para refletir sobre um tema essencial para as nossas vidas enquanto carmelitas, principalmente, nesta Semana Santa.
A vivência quaresmal é um momento de preparação rumo a Semana Santa dando-se pelas vias do autoconhecimento, reflexão contemplativa, Lectio Divina, jejum e conversão que, para nós carmelitas, torna-se um aprofundamento essencial para o estilo de vida professado, comprometido e fiel na contemplação, adoração e, missão profética e fraterna.
O tempo pascal é o ápice do amor de Deus, em Cristo Jesus, por cada ser humano na realização de Seu projeto de salvação universalmente. Neste período a família carmelitana (e em todos os tempos) deve, ardorosamente, responder ao chamado amoroso de Deus (que chama pelo nome), comungando desta Aliança e adotando a vida evangélica (viver em obséquio de Jesus Cristo) no testemunho, na caridade e comunhão fraterna sob o direcionamento da Ordem do Carmo, de sua Regra e em seu vocacional de “beber da fonte”.
Atualmente, fomos surpreendidos pela Covid-19, pela quarentena, e bem no exato período sagrado para a Igreja (Quaresma e Semana Santa), do ser cristão, ser igreja e ser carmelita. O que este tempo de reclusão social está ensinando, direcionando? No sentido amplo, o homem deve dar um basta na banalização à vida em todas as suas dimensões; até mesmo da “Casa Comum” (termo do Papa Francisco para a Criação). Sim, as pessoas estão indiferentes a dádiva da vida e do viver e, mutuamente, ao sentido da própria existência. Este é o alerta que este vírus está sinalizando: quando o descaso é cultivado pelo homem a vida vai deixando de existir e, conjuntamente com ela, o próprio homem.
E a espiritualidade carmelitana como está neste período?
Quarenta dias Jesus Cristo foi tentado no deserto mantendo-se fiel a comunhão com o Pai, além de outros contextos bíblicos até chegar os quarenta dias d’Ele vivenciar a Páscoa (Paixão, Morte e Ressurreição). Será que enquanto carmelitas estamos no compromisso fiel de nossa profissão, nossos votos perpétuos de beber da fonte, a exemplo da Virgem Maria, de Santo Elias e demais santos? Será que verdadeiramente, em comunhão ao Corpo Místico do Senhor, estamos praticando os carismas da oração, fraternidade e profecia na vida contemplativa – gerador da nova forma de orar, da vivência fraterna e da defesa e valor a vida? Será que em todas as esferas do viver estamos comungando a espiritualidade carmelitana? Questões essenciais para despertar esta práxis do viver em obséquio de Cristo nesta “noite escura” que biblicamente todos passaram desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento direcionando que a excelência da caridade tudo suporta, espera, compreende e alcança (cf. 1Cor 13) porque crê e continua a peregrinar ao Monte para, na experiência com o Sagrado (Eucaristia), descer e ser igreja no testemunho missionário.
A quarentena tem direcionado a essencialidade da real vida que habita em cada ser humano para o entendimento de sua dimensão fraternal e universal. A quarentena tem ensinado que a vida não é somente rosas, mas noites escuras por ser o caminho primordial para evolução humana em sua essencial vivência enquanto pessoa que é e no assumir as responsabilidades dos papéis sociais adquiridos no trilhar. A quarentena tem alertado a nós carmelitas que a dádiva da espiritualidade está no silêncio que escuta a Deus, rumina guardando no coração Seus ensinamentos e age missionariamente em prol do bem comum: a santificação.
A espiritualidade carmelitana, neste tempo de exílio (e sempre), deve ser partícipe da vida interior e social, aprimorando sua Aliança de Amor embasado na vivência dos seus carismas: a contemplação/mística (centro) que impulsiona ao entendimento e vivência do elo entre a oração e fraternidade que leva ao desabrochar da ternura. A união da fraternidade com a missão profética que faz brotar a solidariedade; e a missão profética com a oração que proporciona o florescer da justiça, dimensionando a ligação com as três estrelas guias que simbolizam Maria, Elias e Eliseu (síntese da espiritualidade carmelitana).
Ser carmelita é tudo que queremos, mas ser carmelita na práxis do Amor é transbordar o Céu na peregrinação terrestre!
Irmã Vivian Maria Felice Moreno
Ordem Terceira do Carmo da Lapa
Com informações: Província Carmelitana Santo Elias
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