O que se comemora na Epifania?

Epifania significa “manifestação de Deus”. Esta solenidade
do calendário litúrgico comemora a Revelação de Jesus aos Reis Magos. A fim de
aprofundarmo-nos no estudo da doutrina Católica apresentamos este artigo a fim
de que o leitor conheça mais sobre a Revelação e assim compreenda melhor o que
a Igreja comemora na Epifania do Senhor.
Nossos olhos não abarcam a criação
Quantas e quantas vezes elevamos as vistas para o imenso
firmamento erguido sobre nossas cabeças, e nossos olhos não alcançam as
distâncias insondáveis dos inúmeros astros do Universo, e assim, nosso olhar se
perde nas barreiras de nossa limitação? Qual o motivo pelo qual esse fenômeno
se passa? Simplesmente porque nossos olhos são humanos e insuficientes, não
abarcam todas as coisas. Por isso, seria plausível que alguém imaginasse,
fizesse suposições. Enfim, criasse teorias a respeito daquelas realidades que
existem acima da atmosfera terrestre.
O que não alcançamos é preciso que nos seja revelado
Imaginemos, por outro lado, um astrônomo que trabalhando com
seu instrumento preferido, o telescópio. Suponhamos que fosse mais além e
sondasse as vastidões do sideral e conhecesse outra galáxia ou um novo planeta;
não seria natural que ele tivesse verdades para nos transmitir que para nós são
desconhecidas? Verdades essas fundamentadas e fincadas na realidade. Portanto
com muito mais autoridade do que as simples hipóteses de uma pessoa qualquer
que se pusesse a conjecturar sobre coisas que ignora.
Deus nos revela as realidades sobrenaturais
Pois bem, Deus não inventa teorias e nem forma opiniões sem
fundamentos, pelo contrário Ele pode nos transmitir sem margem alguma de erro
tudo o que quiser, porque não só vê e conhece, mas é Criador e Senhor de todas
as coisas. Ele sim, nos revelou muitas verdades. E, as maravilhas – quase
sempre inacessíveis à nossa débil razão -, que Ele nos fez conhecer, são muito
maiores e transpõem diversas vezes tudo quanto há de natural, pois, o que Ele
ensina são, sobretudo, verdades eternas e sobrenaturais . Assim sendo, é natural
que Deus tenha verdades para nos ensinar. É a essa manifestação do Criador à
criatura, esse, por assim dizer, levantar do “véu” que até então cobria e
salvaguardava certas realidades, antes conhecidas e reservadas somente a Deus,
e que em dado momento foram colocadas à disposição dos homens, que chamamos de
Revelação.
Entretanto, Deus não é como um astrônomo que transmite a
seus alunos sua bela ciência, mas como um Pai que ensina aos seus filhos. O
instrumento pelo qual se faz conhecer não é somente um telescópio, porém, Sua
própria Palavra Eterna, Imutável, e “mais penetrante do que uma espada de dois
gumes” (Hb 4,12).
Os dois caminhos para se subir até Deus: a inteligência e
a revelação
O que revelou? “Pela revelação divina quis Deus
manifestar-se, comunicar-se a si mesmo e os decretos eternos da sua vontade a
respeito da salvação dos homens, ‘para os fazer participar dos bens divinos,
que superam absolutamente a capacidade da inteligência humana’”. O ápice desta
revelação foi atingida quando o próprio Deus se fez homem para viver entre nós.
Era realmente importante que houvesse uma Revelação Divina?
Sabemos que há dois caminhos – ambos bem iluminados – que nos faz subir até
Deus. O primeiro é iluminado por uma lamparina chamada inteligência humana, que
através de raciocínios, reflexões e meditações atinge certas verdades; o
segundo é iluminado pelo fulgor de um raio, essa é a “via” da Revelação Divina.
Entretanto, São Tomás de Aquino explica que era necessário
existir para nossa salvação uma doutrina fundada na Revelação Divina.
Primeiramente, porque estamos ordenados para Deus, como para um fim que
ultrapassa a compreensão da razão. Por isso diz Isaías: “O olho não viu, ó
Deus, fora de ti, o que preparastes para aqueles que te amam” (Is. 64,3). Ora,
é preciso que a pessoa, que dirige suas intenções e suas ações para um fim,
antes conheça este fim. Era, pois, necessário para a salvação do homem que essas
coisas lhe fossem comunicadas por revelação divina.
Ademais, quando o ser humano conhece a Deus apenas com a luz
da razão, encontra muitas dificuldades. Além do mais, não pode penetrar sozinho
na intimidade do mistério divino. Por isso, Deus quis iluminá-lo com a sua
Revelação. E não somente sobre verdades que superam a compreensão humana, mas
também sobre verdades religiosas e morais. Estas, embora acessíveis por si à
razão, podem ser assim conhecidas por todos sem dificuldade.
Os três Reis Magos e a revelação através da estrela
Os três Reis Magos, jamais teriam encontrado ao Menino Deus,
se o mesmo não tivesse lhes revelado através da estrela. Da mesma maneira, a
humanidade, que depois do pecado original vivia longe da pátria celeste, nunca
teria chegado a um conhecimento de Deus, se Ele não tivesse revelado. Os olhos
do corpo precisam de luz para ver as coisas da terra. Da mesma forma, e a
razão, olho da alma, precisa da luz da revelação divina para ver as coisas de
Deus.
Essa Revelação não é senão um corolário do imenso amor de
Deus pelos homens, pois Seu amor não se limita quando, benevolamente, dá a
existência para cada ser, mas ao contrário, se manifesta continuamente no
decorrer dos séculos. “A história da salvação é a Revelação mais eloquente e
concreta do amor do Senhor; mais ainda, constitui o diálogo mais fascinante de
amor entre Deus e o homem”.
Quando Deus se manifestou? “No intuito de abrir o caminho de
uma salvação superior, manifestou-se a si mesmo desde os primórdios a nossos
primeiros pais”.
O auge da revelação: “O Verbo se fez carne”
O píncaro dessa revelação se encontra proclamado no
Evangelho de São João, na frase que menciona o maior acontecimento de toda a
história. Esta frase é a pedra angular sobre a qual todo o edifício da
Revelação acha seu sustento e apoio. Assim lemos: “E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu
Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 14).
Durante o tempo em que essa Terra se dignou receber o
próprio Criador feito homem, ela viu revelada a Sua face, Sua mentalidade, Sua
majestade, Sua santidade, Sua Divindade . Pronto! Nada mais é preciso, tudo
está revelado . Pois, como declarou São João da Cruz: “em dar-nos, como nos
deu, seu Filho, que é sua Palavra única – e outra não há –, tudo nos falou de
uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar, (…) pois o que antes falava
por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é
seu Filho”.
Foi essa a razão que levou São Bernardo a dizer que, a fé
católica não é uma religião do livro, mas sim da Palavra de Deus. E não de uma
palavra escrita e muda, mas do Verbo Encarnado e vivo . Todavia, embora a
Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo. É dever da fé
católica captar e desenvolver gradualmente sua doutrina ao longo dos séculos .
Onde podemos encontrar as verdades reveladas?
Entretanto, onde encontramos as verdades reveladas? Na
Escritura, que é a Palavra de Deus Escrita; e na Tradição, que é a palavra de
Deus não escrita, transmitida oralmente. A Sagrada Escritura e a Sagrada
Tradição constituem os dois modos distintos de comunicar essa revelação. Mas,
para que se mantivesse protegido, conservado e unido os dados da Revelação,
contidos na Bíblia e na Tradição, Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o Sagrado
Magistério, entregando à Igreja o múnus de ensinar (cf. Mt 28, 19.20).
Qual nosso dever diante da revelação?
Tudo isto veio da parte de Deus. E de nossa? O que Lhe
retribuiremos? Devemos render-Lhe nossa eterna gratidão e amor por Ele nos ter
colocado à disposição esse magnífico “telescópio” para assim podermos conhecer,
admirar e contemplar os diversos aspectos desse Infinito Universo que é Ele, e
também por nos ter oferecido a oportunidade de começarmos, já nessa terra, a
participar de Sua glória até chegarmos à eternidade onde o fitaremos face a
face. Pois, hoje O vemos como por um espelho e confusamente, mas um dia O
veremos tal qual Ele é! (cf. 1Cor 13, 12; 1Jo 3,2).
Por Lucas Alves Gramiscelli