A quinta condição é a devoção, pela qual não devemos rezar
de maneira negligente, como muitos costumam fazer, mas com atenção,
sinceridade, diligência e fervor. Nosso Senhor severamente adverte aqueles que
rezam apenas com os lábios.
Assim Ele nos fala em Isaías: O Senhor disse: Esse povo vem
a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração
está longe de mim [Is 29, 13].
Esta virtude é fruto de uma fé viva e consiste não apenas no
hábito de orar, mas na ação. Para aqueles que com fé firme e atenção consideram
a grandeza de Sua Majestade Nosso Senhor, quão grande é nossa insignificância,
e como são importantes nossos pedidos, não pode fazer diferente que rezar com
grande humildade, reverência, devoção e fervor.
Aqui devemos acrescentar o testemunho importante de dois
santos padres. São Jerônimo escreve: começo pela oração: não devo orar se não
acreditar; mas se eu tiver fé verdadeira, este coração, que Deus vê, posso
limpá-lo; posso bater no peito, posso molhar minhas faces com minhas lágrimas,
posso negligenciar toda atenção ao meu corpo e tornar-me fraco; posso me jogar
aos pés do meu Senhor, molhá-los com minhas lágrimas e secá-los com meus
cabelos; me apoiar na cruz, e não abandoná-la enquanto não obtiver
misericórdia.
Porém mais frequentemente durante minhas orações encontro-me
caminhando pela cidade e sendo levado por pensamentos maus, entretenho-me em
coisas das quais me envergonho de falar. Onde está nossa fé? Supomos que Jonas
rezou assim? Os três jovens? Daniel na cova dos leões? Ou o bom ladrão na cruz?
São Bernardo, no seu Sermão sobre os Quatro Métodos da
Oração, escreve: sobretudo nos impele, durante o tempo de oração, entrar no
quarto celestial, no qual o Rei dos Reis encontra-se sentado em seu trono,
cercado por inumerável e glorioso exército de almas abençoadas.
Com tal reverência, tal temor, tal humildade, nos
aproximamos com pó e cinzas, nós que não somos nada além de pequenos insetos
rastejantes.
Com tal temor, seriedade, atenção e solicitude deve tão
miserável homem estar próximo da divina majestade, na presença de anjos, na
assembléia dos justos? Em todas nossas ações temos necessidade de vigilância,
especialmente na oração.
Por São Roberto Belarmino
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