O mundo parece estar cheio de pessoas felizes, de famílias
perfeitas, pessoas realizadas nas suas profissões e com imensos projetos
encantadores. Dizem que não têm problemas nem fracassos, apenas desafios e
oportunidades! Enfim, estão mesmo bem! Ou mesmo mal...
Talvez isto seja uma forma de cortar as ligações humanas?
Afinal, quem não finge desta forma, fica de parte. Quem, por outro lado, faz
parecer que a sua vida é mesmo assim, faz dessa sua mentira a sua sentença de solidão.
Até pode ter imensos amigos, mas é melhor não os por à prova, por mais simples
que a prova seja, pois não deverão restar muitos.
Chorar parece para muitos o sinal da derrota e ninguém
parece gostar dos derrotados.
Na verdade, para ultrapassar os maus momentos da vida, e
alguns chegam a durar anos, é essencial ter alguém com quem chorar. Alguém
capaz de estar perto de nós, quando estamos longe de estar no nosso melhor, e
de nos ouvir, mesmo que aquilo que dizemos possa não ser nem tão lógico,
agradável ou lúcido quando desejariam escutar.
Quando, para além de todas as outras dores, se sente o
espinho do desamor cravado na carne... dói. Muito. Chorar ajuda. Chorar liberta
um pouco. Chorar é um passo para fora dali.
As lágrimas libertam tanto quanto as confissões. Mas nem
umas nem outras têm o mesmo sentido se se derem no abandono.
Alguns contam com a presença pressentida dos que já lhes
morreram. Até porque, ao que parece, os vivos têm sempre coisas para fazer, e
muito importantes. Na verdade, não têm, mas encontram nas suas tarefas,
excelentes desculpas para não fazerem o que devem.
Será que eu estou disponível para ajudar alguém garantido
que não estará sozinho quando estiver a chorar?
Somos todos fracos com força, ou fortes que por vezes
falham, precisamos todos uns dos outros.
É o amor que nos faz ser quem somos, pela capacidade que nos
dá em nos complementarmos e lutarmos contra a solidão que nos divide e derrota.
Há quem não tenha com quem partilhar sequer uma alegria.
Quanto desamor e inveja há no mundo ao ponto de deixarmos
outras pessoas, iguais a nós, abandonadas, da mesma forma como nós nunca
desejaríamos estar... há até aqueles a quem a vida já secou as lágrimas, por
quem já ninguém chora... são como que invisíveis.
Corações esfomeados e sem abrigo, para quem um amigo seria
mais do que um banquete e um palácio.
Por José Luís Nunes Martins
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