Vamos
agora falar do método para rezar corretamente, necessário para a arte de viver
corretamente e, por consequência, morrer corretamente.
Comecemos
pelo que diz o Senhor: Pedi e se vos dará. Buscai e achareis [Mt 7,7]. São
Tiago, em sua epístola, explica que a frase deve ser compreendida com uma
condição: se nós pedirmos propriamente: Pedis e não recebeis, porque pedis mal
[Tg 4,3].
Devemos
entender da seguinte maneira: aquele que pedir os dons para viver de maneira
justa, sem dúvida será atendido; e aquele que pedir por perseverança na vida
até a sua morte, e pedir por uma morte feliz, também com certeza obterá.
Portanto,
nós explicaremos as condições da oração, para que saibamos rezar bem, viver bem
e morrer bem.
A
primeira condição é a fé, de acordo com as palavras do apóstolo: Porém, como
invocarão aquele em quem não têm fé? [Rm 10,14a], com as quais São Tiago
concorda: mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação [Tg 1,6a].
Mas a
necessidade de fé não deve ser entendida como se fosse importante acreditar que
Deus deva certamente atender ao que é pedido, pois neste caso nossa fé seria
provada falsa e então não obteríamos nada.
Devemos
acreditar que Deus é mais poderoso, mais sábio e mais digno de fé; e que Ele
sabe, que tem poder e está preparado para atender nossos pedidos, se entendê-lo
apropriado e útil para nós, receberemos o que pedimos.
Esta fé
Cristo pediu aos dois homens cegos que curou: Credes que eu posso fazer isso?
[Mt 9, 28].
Com a mesma fé Davi rezou pelo seu filho adoentado, como provam
suas palavras, pois ele acreditava não ser seguro que Deus atenderia suas
preces, mas que somente Deus seria capaz de conceder tal graça: Quem sabe,
talvez o Senhor terá pena de mim e o menino ficará bom? [2Sm 12, 22].
Disto
não se pode duvidar. Com a mesma fé o apóstolo Paulo rezou para se livrar de um
"espinho na carne". Pois o apóstolo rezou com fé, e sua fé não era
falsa se ele acreditava que Deus poderia lhe conceder a cura que pedia, embora
não tenha obtido o que pedia.
E com a
mesma fé a Igreja pede por todos heréticos, pagãos, cismáticos e maus cristãos
que possam ser converter, e, no entanto, é certo que nem todos se converterão.
Por São
Roberto Belarmino
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