Jesus é crucificado
Das 11 ao
meio-dia
Primeira parte: a crucificação
J
|

Ah, meu Jesus, nesta terceira coroação, Tu reparas a
perversidade do homem e a sua obstinação no pecado!
Meu Jesus, se o amor não quisesse fazer-Te sofrer dores,
ainda maiores do que estas, sem dúvida terias morrido pela acerbidade da dor
que padeceste nesta terceira coroação de espinhos; no entanto, vejo que não
consegues aguentar a dor e, com os olhos cobertos de Sangue, olhas para ver se,
ao menos, alguém se aproxima de Ti para Te socorrer, no meio de tantos
padecimentos e tanta confusão.
Meu doce Bem, minha dileta Vida, aqui não estás sozinho como
na noite passada; está aqui a Tua Mãe dolorosa que, com o coração trespassado
pela dor intensa, morre tantas vezes por quantas dores Tu sofres! Também, está
aqui a amada Madalena e o fiel João que, à vista das Tuas penas, ficam mudos de
dor. Diz-me, meu Amor, quem é que Tu queres que Te socorra no meio de tanta dor?
Permite-me que seja eu, porque sinto que tenho mais necessidade, do que todos
eles, de estar perto de Ti, nestes momentos; a querida Mãe e os outros cedem-me
o lugar e eis que, ó Jesus, me aproximo de Ti, Te abraço, Te peço que apoies a
Tua cabeça no meu ombro e me faças sentir as pontadas dos Teus espinhos, para
reparar todas as ofensas de pensamento que as criaturas cometem. Meu Amor,
abraça-Te a mim; quero beijar uma a uma as gotas de Sangue que escorrem pelo
Teu Santíssimo Rosto e peço-Te que cada uma destas gotas seja luz para a mente
de cada criatura, a fim de que nenhuma delas Te ofenda com pensamentos
perversos.
Entretanto, meu Jesus, Tu olhas para a Cruz que os Teus
inimigos Te estão preparando; sentes as marteladas com que os Teus algozes fazem
os furos onde pregarão os cravos que Te crucificarão, e o Teu Coração bate com
muita força, estremece de enlevo divino, aspirando estenderes-Te naquele leito
de dor, para selar, com a Tua Morte, a salvação das nossas almas. Sinto-Te
dizer: “Ó Cruz, recebe-Me depressa nos teus braços. Eu estou impaciente à tua
espera! Cruz Santa, sobre Ti cumprirei tudo: depressa, ó Cruz, cumpre o desejo
ardente, que Me consome, de dar a Vida às almas; não adies mais, porque espero
ansiosamente poder estender-Me sobre ti para abrir o Céu a todos os Meus
filhos”.
Oh, ó Cruz, é verdade que tu és o Meu martírio, mas, em
breve, tu serás, também, a Minha vitória e o Meu triunfo mais completo; e, por
meio de ti, darei copiosa herança, vitórias, triunfos e coroas aos Meus filhos”.
E eis que, enquanto Jesus fala assim, os Seus inimigos
ordenam-Lhe que Se estenda sobre ela e Ele obedece-lhes prontamente, para
reparar as nossas desobediências.
Meu Amor, antes de Te estenderes na Cruz, permite-me que Te
estreite ao meu coração, com mais força, e que beije as Tuas amorosas Chagas a
sangrar. Escuta, ó Jesus, não quero deixar-Te, quero ir, conTigo, estender-me
sobre a Cruz e permanecer pregado conTigo nela. O verdadeiro amor não suporta a
separação e Tu perdoarás a ousadia do meu amor, mas concede-me de permanecer
crucificado conTigo. Vês, meu terno Amor, não sou só eu que Te peço isto, mas
também a Mãe dolorosa, a inseparável Madalena e o predileto João; todos Te
dizemos que será mais fácil permanecer pregado conTigo na Cruz, do que ver-Te
só a Ti crucificado! Por isso, ofereço-me, juntamente, conTigo ao Eterno Pai,
unido com a Tua Vontade, com o Teu Coração, com as Tuas reparações e todas as
Tuas penas.
Ah, parece que o meu amado Jesus me diz: “Meu filho,
antecipaste o Meu Amor, a Minha Vontade é que todos aqueles que Me amam sejam
crucificados coMigo. Ah, sim, vem também tu a estender-te coMigo na Cruz,
dar-te-ei vida com a minha Vida e ter-te-ei como o predileto do meu Coração”.
E eis que, meu doce Bem, Te estendes sobre a Cruz e olhas
com tanto amor e tanta doçura para os Teus algozes, os quais já têm os cravos e
os martelos prontos nas suas mãos para Te pregar, dirigindo-lhes um amigável
convite a solicitar a crucificação; de facto, com furor desumano, pegam na Tua
mão direita, fixam o prego na sua palma e, com golpes de martelo, fazem-no sair
da outra parte oposta da Cruz. Ó meu Jesus, a dor que sentes é tal, que tremes;
a luz dos Teus belos olhos eclipsa-se e o Teu Santíssimo Rosto empalidece como
se estivesse morto.
Ó Mão direita, abençoada, do meu Jesus, beijo-te
compadeço-me de ti, adoro-te e agradeço-te por mim e por todos: por quantos
golpes recebes, tantas almas peço que libertes da condenação eterna neste
momento; por quantas gotas de Sangue derramas, tantas almas te peço que
purifiques neste teu preciosíssimo Sangue. Ó meu Jesus, pela dor atroz que
sentes, peço que abras o Céu a todos e abençoes todas as criaturas; possa a Tua
bênção chamar à conversão todos os pecadores e à luz da Fé todos os heréticos e
infiéis.
Ó Jesus, minha doce Vida, o teu tormento ainda está no
início e depois de terem pregado a Tua mão direita, os Teus algozes, com
crueldade inaudita, tomam a Tua Mão esquerda e esticam-na com grande violência,
para a fazer chegar ao furo assinalado, que as articulações dos braços e dos
ombros se desconjuntam e, devido à violência da dor, também as Tuas pernas se
contraem; depois, com furor incansável, pregam-na na cruz, como fizeram com a
direita.
Mão esquerda do meu Jesus, beijo-te, compadeço-te, adoro-te,
dou-te graças e peço-te, pelos golpes que recebes e pelas dores atrozes que
padeces, enquanto te trespassam com o cravo, que concedas, neste momento, às
almas do Purgatório a sua libertação. Sim, ó Jesus, pelo Sangue que derramas
desta mão, peço-Te que extingas as chamas que envolvem estas almas; e este
Sangue seja para todas elas um refrigério e um banho salutar, que as purifique
de todas as manchas e as prepare para a visão beatífica. Meu Amor e meu Tudo,
por esta dor atroz que sofres, peço-Te que feches o Inferno a todas as almas e
que detenhas os raios da Justiça Divina, demasiado irritada pelas nossas
culpas! Ó Jesus, faz com que se acalme a Justiça Divina para não fazer chover
os divinos flagelos sobre a Terra e se abram os tesouros da Misericórdia Divina
em benefício de todos. Meu Jesus, nos Teus braços coloco o mundo e todas as
gerações, enquanto Te peço, ó meu doce Amor, com as vozes do Teu próprio
Sangue, que não negues o perdão a ninguém e que, pelos méritos deste Teu
preciosíssimo Sangue, concedas a todos a salvação da própria alma! Ó Jesus, não
excluas ninguém!
Jesus, meu Amor, os Teus inimigos ainda não estão
satisfeitos: com furor diabólico tomam os Teus Santíssimos pés, contraídos pela
grande dor que sentistes quando Te esticaram as mãos, e puxam-nos tanto que se
desconjuntam os joelhos, as costelas e todos os ossos do peito. Meu dileto Bem,
o meu coração não aguenta mais; em virtude da dor, vejo os Teus belos olhos
toldados e cobertos de Sangue; os Teus lábios lívidos contorcem-se, as Tuas
faces encovam-se e os dentes rangem, enquanto o peito fica sufocado. Ah, meu
Amor, de boa vontade tomaria o teu lugar para poupar-Te tanta dor! Quero curar,
dar a todos os Teus membros um lenitivo, um beijo, um conforto, uma reparação
por todos.
Meu Jesus, agora, colocam-Te um pé sobre o outro e
trespassam-nos com um cravo sem ponta. Pés abençoados do meu Jesus, beijo-vos,
adoro-vos, agradeço-vos e rogo-vos, pelas dores atrozes que sofreis, pelos
puxões e pelo Sangue que derramais, que encerreis todas as almas nas vossas
sacratíssimas chagas.
Ó Jesus, não afastes ninguém! Os teus cravos preguem as
nossas potências, para que não se afastem de Ti; preguem o nosso coração, a fim
de que se fixe sempre e somente em Ti; preguem todos os nossos sentimentos, a
fim de que não sintam qualquer gosto que não venha de Ti. Oh, meu Jesus
crucificado, vejo-Te todo cheio de sangue e como que a nadar num banho de
sangue, que continuamente pede almas. Assim, pelo poder deste Sangue, peço-Te,
ó Jesus, que nunca mais nenhuma Te fuja!
Ó Jesus, aproximo-me do Teu Coração angustiado; vejo que não
podes mais, mas o amor brada mais forte: “Mais penas, mais penas, mais penas!”
Meu Jesus, abraço-Te, beijo-Te, tenho compaixão de Ti,
adoro-Te e agradeço-Te por mim e por todos. Jesus, quero apoiar a minha cabeça
no Teu Coração para sentir o que sofres nesta dolorosa Crucificação. Ah, sinto
que cada golpe de martelo ecoa nele; tudo se concentra nele e, por isso, é ali,
que começam as dores e é ali que terminam. Ah, se não tivesse sido já decretado
que uma lança deve trespassar o Teu Coração, as chamas do Teu Amor aumentariam
e fá-lo-iam explodir! Estas chamas convidam as almas, que amam, a estabelecer
uma feliz morada no Teu Coração enquanto eu, ó Jesus, pelo Teu preciosíssimo
Sangue, Te peço a santidade para estas almas: nunca as deixes sair do Teu
Coração e, com a Tua Graça, multiplica as vocações das almas vítimas, para que
continuem a Tua Vida na Terra. Tu quiseste reservar um lugar distinto no Teu
Coração para estas almas amantes; faz com que elas nunca percam este lugar. Ó
Jesus, as chamas do Teu Coração me queimem e me consumam, o Teu Sangue me
adorne, o Teu Amor me conserve sempre cravado nela[1]
com dor e a reparação.
Ó meu Jesus, os algozes pregaram as Tuas mãos e os Teus pés
na Cruz, e agora voltam-na para pregar melhor os cravos, obrigando o Teu Rosto
adorável a tocar a terra ensanguentada com o Teu próprio Sangue e Tu, com os
Teus lábios divinos, beija-la. Com este Teu beijo, ó meu doce Amor, Tu
pretendes beijar todas as almas e vinculá-las ao Teu Amor, selando a sua
salvação. Ó Jesus, deixa que tome o teu lugar e, enquanto os algozes pregam os
cravos, faz com que estes golpes me firam também a mim e me preguem totalmente
ao Teu Amor.
Meu Jesus, enquanto os espinhos penetram cada vez mais na
Tua cabeça, quero oferecer-Te, ó meu doce Bem, todos os meus pensamentos que,
como beijos afetuosos, Te consolem e suavizem a amargura dos Teus espinhos.
Ó Jesus, vejo que os Teus inimigos ainda não estão saciados
de Te insultar e de Te escarnecer, e desejo confortar os Teus olhares divinos
com os meus olhares de amor.
A Tua língua está quase colada ao céu-da-boca pela amargura
do fel e pela sede ardente. Ó meu Jesus, para saciar a Tua sede, Tu desejarias
os corações de todas as criaturas repletos de amor e, não os tendo, consomes-Te
sempre mais por elas. Meu doce Amor, desejo enviar-Te rios de amor, para Te
mitigar, de alguma maneira, a amargura do fel e a Tua sede ardente. Ó Jesus,
vejo que a cada movimento que fazes, as chagas das Tuas mãos se abrem ainda
mais e a dor torna-se mais intensa e atroz. Meu querido Bem, para aliviar e
suavizar este sofrimento, ofereço-Te as obras santas de todas as criaturas. Ó
Jesus, quanto sofres nos Teus Santíssimos pés! Parece que todos os movimentos
do Teu Sacratíssimo Corpo se repercutem neles e não está ninguém perto de Ti
para Te suster e suavizar, pelo menos, o amargor das Tuas dores! Minha dulcíssima
Vida, quereria reunir os passos das criaturas de todas as gerações passadas,
presentes e futuras, e orientá-los todos para Ti, para que viessem a
consolar-Te nas Tuas árduas penas.
Ó meu Jesus, como está dilacerado o Teu pobre Coração! Como
confortar tanta dor? Derramar-me-ei em Ti, meterei o meu coração no Teu, os
meus desejos ardentes nos Teus, para que seja destruído qualquer desejo
perverso; derramarei o meu amor no Teu, a fim de que com o teu fogo sejam
purificados os corações de todas as criaturas e aniquilados os amores profanos.
O Teu Sacratíssimo Coração ficará confortado e eu, desde agora prometo, ó
Jesus, ficar sempre pregado a este amorosíssimo Coração com os cravos dos Teus
desejos, do teu Amor e da tua Vontade.
Ó meu Jesus, Tu estás crucificado e eu crucificado em Ti. Tu
não permitas que me separe, nem sequer um momento, de Ti, mas permaneça sempre
pregado, para Te poder amar e reparar por todos e suavizar a dor que as
criaturas Te causam com as suas culpas.
Segunda parte: Jesus Crucificado.
Com Ele, desarmamos a Justiça divina
Meu bom Jesus, vejo que os Teus inimigos levantam o madeiro
pesado da Cruz e o deixam cair na cova que eles abriram; e Tu, meu doce Amor,
ficas suspenso entre o céu e a terra. Neste solene momento, diriges-Te ao Pai
e, com voz débil e fraca, dizes-Lhe: “Pai Santo, eis-me aqui, carregado com
todos os pecados do mundo; não existe nenhuma culpa que não caia sobre Mim, por
isso, nunca mais descarregues sobre os homens os flagelos da Tua Justiça
Divina, mas sobre Mim, Teu Filho. Ó Pai, permite-Me que vincule todas as almas
a esta Cruz, e que implore o perdão para elas, com as vozes do Meu Sangue e das
Minhas Chagas. Ó Pai, não vês em que estado Me encontro?
Por esta Cruz, em virtude destas dores, concede a todos uma conversão verdadeira, paz, perdão e santidade. Detém o Teu furor contra a pobre
Humanidade, contra os Meus filhos; eles são cegos e não sabem o que fazem; por
isso, olha bem para Mim e vê em que estado estou, por causa deles: se não tens
compaixão deles, tem ao menos piedade deste Meu Rosto sujo de escarros, coberto
de Sangue, pálido e inchado devido a tantos murros e golpes recebidos. Meu Pai,
tem piedade! Eu era o mais belo de todos e agora estou totalmente desfigurado,
a tal ponto que já não Me reconheço; tornei-Me a abjeção de todos e por isso,
custe o que custar, quero salvar a pobre criatura!”
Meu Jesus, como é possível que nos ames tanto? O Teu Amor
consome este meu pobre coração. Oh, como quereria ir ter com todas as criaturas
e mostrar-lhes este Teu Rosto tão desfigurado por sua causa, para que tenham
compaixão das suas almas e do Teu Amor; e com a luz que vem deste Teu Rosto e,
com a força arrebatadora do Teu Amor, fazer-lhes compreender quem és Tu e quem
são elas, que ousam ofender-Te, para que se prostrem diante de Ti para Te
adorar e glorificar.
Meu Jesus, adorável Crucificado, a criatura continua a
irritar sempre a Justiça Divina e, com a sua língua, faz ressoar o eco de blasfêmias horrendas, vozes de imprecações e maldições, conversas maldosas. Ah,
todas estas vozes ensurdecem a terra e, penetrando até aos Céus, enquanto
ensurdecem o ouvido divino, imprecam e pedem vingança e justiça contra ela
própria! Oh, como a Justiça Divina se sente impelida a lançar os Seus flagelos!
Oh, como tantas blasfêmias horrendas acendem o Seu furor contra a criatura! Mas
Tu, ó meu Jesus, amando-nos com tanto Amor, fazes frente a estas vozes
mortíferas, com a Tua voz omnipotente e criadora, e imploras misericórdia,
graças e amor para ela. E para aplacar a indignação do Pai, cheio de amor
dizes-Lhe: “Meu Pai, volta a olhar para Mim, não ouças as vozes das criaturas,
mas a Minha; sou Eu que satisfaço por todos; por isso, Te peço que olhes para a
criatura e que a olhes através de Mim; se olhares para ela sem ser através de
Mim, o que será dela? É frágil, ignorante, capaz só de fazer o mal, cheia de
todas as misérias; piedade, tem piedade da pobre criatura; respondo Eu por ela,
com esta Minha língua amargada pelo fel, ressequida pela sede, seca e a arder
de amor”.
Meu amargurado Jesus, a minha voz, na Tua, quer fazer frente
a todas estas ofensas, a todas as blasfêmias, para poder transformar todas as
vozes humanas em vozes de bênção e louvor.
Meu Jesus Crucificado, apesar do Teu Amor e da Tua dor serem
tantos a criatura não se rende; pelo contrário, desprezando-Te, vai
acrescentando mais culpas, cometendo sacrilégios enormes, homicídios,
suicídios, duelos, fraudes, enganos, crueldades e traições. Ah, todas estas
obras perversas, fazem pesar mais os braços do Teu Pai Celestial que, não
podendo suportar o peso, está para abaixá-los e derramar furor e destruição
sobre a terra. E Tu, ó meu Jesus, para subtrair a criatura do furor divino,
temendo vê-la destruída, estendes os Teus braços para o Pai, desarma-l’O e
impedes que a Justiça Divina prossiga o seu curso; e para que Ele se compadeça
da miserável Humanidade e se enterneça, dizes-Lhe com voz mais insinuante: “Meu
Pai, olha para estas mãos rasgadas e para estes cravos que as trespassam, que
me cravam, juntamente, com todas estas obras perversas. Ah, é nestas mãos que
sinto todas as dores atrozes que me provocam estas obras malignas. Ó meu Pai,
não estás contente com as Minhas dores? Não sou, porventura, capaz de
satisfazer-Te? Sim, estes Meus braços desconjuntados serão sempre correntes que
terão amarradas as pobres criaturas, a fim de que não Me escapem, a não ser
aquelas que queiram libertar-se à viva força; e estes Meus braços serão
correntes amorosas que Te amarrarão, ó Meu Pai, para impedir que Tu destruas a
pobre criatura; antes, atrair-Te-ei sempre mais a ela, para que derrames sobre
ela as Tuas graças e misericórdias!”
Meu Jesus, o Teu Amor é um doce encanto para mim e leva-me a
fazer o que Tu fazes; por isso, juntamente conTigo quero impedir, a custo de
qualquer pena, que a Justiça Divina prossiga o Seu curso contra a pobre
Humanidade; com o Sangue, que escorre destas Tuas mãos, quero extinguir o fogo
da culpa que a ateia e apaziguar o Seu furor. Concede-me que deponha, nestes
Teus braços, as dores e as agonias de todos os homens e tantos corações aflitos
e oprimidos; permite-me que vá ter com todas as criaturas e as estreite a todas
nestes Teus braços, a fim de que todas regressem ao Teu Coração; concede-me
que, com a Potência das tuas mãos criadoras, detenha a corrente de tantas obras
perversas e impeça a todos de fazerem o mal.
Meu amável Jesus crucificado, a criatura ainda não está
cansada de Te ofender; quer beber, até ao fim, toda a escória do pecado e corre
quase loucamente pelo caminho do mal; precipita-se de culpa em culpa,
desobedece às Tuas Leis e, não Te reconhecendo, revolta-se contra Ti e, quase
para Te desprezar, quer ir para o Inferno. Oh, como se indigna a Suprema
Majestade! E Tu, ó meu Jesus, triunfando de tudo, também da obstinação das
criaturas, para aplacar o Divino Pai, mostras-Lhe toda a Tua Santíssima
Humanidade dilacerada, desconjuntada, chagada de forma horrível; mostras-Lhe os
Teus Santíssimos pés trespassados, contorcidos pela atrocidade das dores, e
ouço a Tua voz tão comovida, como nunca, em ato de expirar, querendo vencer a
criatura à força de amor e de dor, e, triunfando sobre o Coração Paterno,
dizes-Lhe: “Meu Pai, olha-Me da cabeça aos pés: não há parte sã em Mim, não há
mais sítio nenhum onde possam abrir-Me mais chagas e causar-Me mais dores: se
não Te aplacas diante deste espetáculo de amor e de sofrimento, quem é que
conseguirá apaziguar-Te? Ó criaturas, se não vos renderdes a tanto Amor, que
esperança vos resta de vos converterdes? Estas Minhas Chagas e este Meu Sangue
serão sempre vozes que chamarão, do Céu à Terra, graças de arrependimento,
perdão, compaixão de vós!”
Meu Jesus crucificado, vejo que já não podes mais; a tensão
terrível que padeces na Cruz, o ranger contínuo dos Teus ossos que se
desconjuntam cada vez mais, a cada movimento, por mais pequeno que seja, a
carne se rasga sempre mais, a sede ardente que Te consome, as penas interiores
que te sufocam de amargura, de dor e de amor, e, com tantos Teus martírios, a
ingratidão humana que Te aflige e que, como uma onda impetuosa, penetra até
dentro do Teu Coração trespassado, Te oprimem tanto, que a Tua Santíssima
Humanidade, não aguentando mais sob o peso de tantos martírios, está para
expirar e, como que delirando de amor e de sofrimento, pede ajuda e piedade!
Jesus crucificado, como é possível, Tu, governas tudo e dás vida a todos e
pedes ajuda? Ah, como quereria penetrar em cada gota do Teu preciosíssimo
Sangue e derramar o meu para Te mitigar cada uma das Tuas Chagas, para suavizar
e tornar menos dolorosas as pontadas de cada espinho e penetrar em cada pena
interior do Teu Coração para aliviar a intensidade das Tuas amarguras; gostaria
de dar-Te vida por vida: se me fosse possível, quereria despregar-Te da Cruz
para ficar em teu lugar; mas vejo que nada sou e nada posso, sou demasiado
insignificante, por isso dá-Te a Ti mesmo a mim, tomarei vida em Ti e em Ti,
dar-Te-ei a Ti mesmo. Assim, satisfarás a minha ânsia. Jesus dilacerado, vejo
que a Tua Santíssima Humanidade termina não por Ti, mas para cumprir em tudo a
nossa Redenção; tens necessidade de auxílio divino e, por isso, Te lanças nos
braços paternos e pedes auxílio e socorro. Oh, como o Divino Pai se enternece
ao olhar a horrível dilaceração da Tua Santíssima Humanidade, o trabalho
terrível que o pecado fez sobre Teus Santíssimos Membros! E para satisfazer as
Tuas ânsias de amor, estreitas-Te ao Seu Coração paterno e Ele dá-Te os
auxílios necessários para realizares a nossa Redenção e, enquanto Te abraça,
sentes repetir, no Teu Coração, com mais força os golpes dos cravos, os açoites
dos flagelos, as dilacerações das chagas, as pontadas dos espinhos. Oh, como o
Pai fica ferido! Como se indigna, ao ver que todas estas penas, são levadas até
ao fundo do Teu Coração, por almas, também, consagradas a Ti! E na Sua dor,
diz-Te:
“Meu Filho, é possível que nem sequer a parte por Ti eleita
esteja toda conTigo? Antes, parece que estas almas pedem refúgio e encobrimento
neste Teu Coração para Te amargurar e Te causar uma morte mais dolorosa e, para
mais, todas estas dores que Te provocam estão escondidas e cobertas por
hipocrisias. Ah, Filho, não posso conter mais a indignação pela ingratidão
destas almas, que Me ferem mais do que todas as outras criaturas juntas”.
Mas Tu, ó meu Jesus, triunfando sobre tudo, defendes,
também, estas almas e, com o imenso amor deste Teu Coração, fazes um dique,
para as ondas de amarguras e trespasses que estas almas de dão e, para
aplacares o Pai, dizes-Lhe: “Meu Pai, olha este Meu Coração; todas estas dores
Te satisfaçam e quanto mais atrozes essas forem, tanto mais potentes são sobre
o Teu Coração de Pai, para impetrar-lhes graças, luz e perdão. Meu Pai, não as
rejeites, elas serão as Minhas defensoras que continuarão a minha Vida na
terra”.
Minha Vida, Jesus crucificado, vejo que ainda agonizas na
Cruz, dado que o Teu Amor ainda não está saciado, para dar cumprimento a tudo.
Sim, também eu agonizo juntamente conTigo e todos vós, Anjos e Santos, vinde ao
Monte Calvário e observai os excessos e as loucuras do Amor de um Deus!
Beijemos as Suas Chagas sangrentas, adoremo-las, sustentemos aqueles membros
dilacerados, agradeçamos a Jesus a Redenção realizada, lancemos um olhar à Mãe
trespassada, que tantas penas e mortes sente no Seu Coração Imaculado, por
quantas penas que vê no Seu Filho Deus: as Suas próprias vestes estão manchadas
de Sangue; o Monte Calvário está todo salpicado de Sangue; por isso, todos
juntos tomemos este Sangue, peçamos à Mãe dolorosa para que se una a nós, espalhemo-nos
por todo o mundo para ir em socorro de todos. Ajudemos os que estão em perigo,
a fim de que não pereçam; os caídos, para que voltem a levantar-se; aqueles que
estão prestes a cair, a fim de que não caiam; demos este Sangue a tantos pobres
cegos, para que resplandeça neles a luz da Verdade; e, de modo especial, vamos
até junto dos pobres combatentes, sejamos as suas sentinelas vigilantes e, se
estiverem prestes a cair, atingidos pela arma do inimigo, recebamo-los nos
nossos braços para os confortar, e se forem abandonados por todos, se estiverem
desesperados, diante da sua triste sorte, demos-lhe este Sangue, para que se
resignem e seja suavizada a atrocidade das dores; e se virmos que há almas que
estão para cair no Inferno, demos-lhe este Sangue Divino, que contém o preço da
Redenção, e arrebatemo-las a Satanás! E enquanto terei Jesus apertado ao meu
coração para O defender e O reparar de tudo, estreitarei todos a este Coração,
a fim de que todos obtenham a graça eficaz de conversão, força e salvação.
Entretanto vejo, ó Jesus, que o Sangue, como um rio, escorre
das Tuas mãos e dos Teus pés; os Anjos, chorosos, fazendo-Te coroa, admiram os
prodígios do Teu imenso Amor. Vejo, a Tua doce Mãe aos pés da Cruz, trespassada
pela dor, a Tua querida Madalena, o predileto João, todos em êxtase de
assombro, de amor e de dor! Ó Jesus, uno-me a Ti e abraço-me à Tua Cruz, tomo
todas as gotas do Teu Sangue e derramo-as no meu coração.
Quando eu vir a Tua Justiça irritada contra os pecadores,
eu, para Te aplacar, mostrar-Te-ei este Sangue. Quando eu quiser a conversão
das almas obstinadas no pecado, mostrar-Te-ei este Sangue e, em virtude dele,
não rejeitarás a minha oração, porque tenho o penhor, da mesma, nas minhas
mãos. E agora, Meu Bem crucificado, em nome de todas as gerações passadas,
presentes e futuras, juntamente com a Tua Mãe e com todos os Anjos, prostro-me
diante de Ti e digo-Te: “Nós Te adoramos e bendizemos, ó Cristo, que com a Tua
Santa Cruz redimiste o mundo”.
Reflexões práticas
Jesus crucificado obedece aos algozes, aceita com amor todos
os insultos e penas que Lhe dão. Pelo grande amor que Jesus sentia pela nossa
pobre alma, encontrou na Cruz o Seu leito de repouso; e nós, em todas as penas,
descansamos n’Ele? Com a nossa paciência e com o nosso amor, podemos dizer que
preparamos um leito para Jesus, no nosso coração?
Enquanto Jesus é crucificado, não há sequer uma parte
interior e exterior que não sinta um sofrimento especial; e nós permanecemos
totalmente crucificados com Ele, pelo menos com os nossos principais sentidos?
Quando em uma vã conversa ou outro divertimento semelhante encontramos o nosso
prazer, então é Jesus que fica pregado na Cruz; mas se sacrificamos este mesmo
prazer por amor d’Ele, então despregamos Jesus e pregamo-nos a nós mesmos.
Temos sempre cravado, com os pregos da Sua Santíssima
Vontade, o nosso pensamento, o nosso coração, todo o nosso ser? Enquanto está
crucificado, Jesus olha para os algozes com amor: e nós, por seu amor, olhamos
com amor para quem nos ofende?
Todos: Meu Jesus crucificado, os teus cravos trespassem o
meu coração, a fim de que não haja palpitação, afeto e desejo que não sinta as
pontadas dos mesmos, e o sangue que derramará este meu coração, seja o bálsamo
que suavize todas as Tuas Chagas.