Estamos no tempo das Antífonas do Ó


A Liturgia das Horas a partir do dia 17 ao dia 23 de Dezembro expressa-se de forma poética a chegada do Senhor, nas antífonas das Vésperas, chamadas "Antífonas do Ó”. Mas esta forma poética vem desde a Idade Média e esta maneira de se exprimir tomou grande destaque porque foram solenemente cantadas como introdução ao Magnificat. Aparecem pela primeira vez no Responsório atribuído ao Papa São Gregório (+604).
Estas antífonas vêm de longe, tem atravessado séculos ressoando na voz orante da Igreja e ajudando o povo cristão a invocar a vinda do Senhor, isto é, ensinando o povo cristão quem é Aquele a quem deve esperar e do qual deve pedir a vinda.
Nos mosteiros, há muito tempo se costumavam cantar essas antífonas, como as suas melodias majestosas, com acompanhamento de órgão e com o toque dos sinos da igreja. O sacerdote, que entoa a antífona, usa alva e capa e incensa o altar durante o canto do Magnificat, e assim essas antífonas são significativas não só pelo seu texto e pela música, mas também pelo imponente cerimonial que as cerca.
Pierre Journel, conhecido especialista francês em liturgia, escreveu:
«As grandes antífonas não são apenas uma síntese da mais pura esperança messiânica do Antigo Testamento: por meio das imagens da Bíblia, mas enumeram também os títulos divinos do Verbo encarnado e o seu Veni (vinde) exprime todo o anseio presente da Igreja. Nelas, a liturgia do Advento chega ao auge.» [1]
As grandes antífonas são usadas na Igreja romana desde o século VIII. O seu autor, cuja identidade é desconhecida, deveria ser versado na Escritura Sagrada, pois nessas composições entreteceu passagens do Antigo Testamento, e ao fazê-lo criou algo novo. Ao redor do texto abaixo, incluí as referências bíblicas:
17 de Dezembro: Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo (Eclo 24,3), e atingis até os confins de todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro (Sb 8,1): Ó, vinde ensinar-nos o caminho da prudência! (Is 40,14);
18 de Dezembro: Ó Adonai, guia da casa de Israel (Mt 2,6), que aparecestes a Moisés na sarça ardente e lhe destes vossa lei sobre o Sinai: Vinde salvar-nos com seu braço poderoso! (Jr 32,21);
19 de Dezembro: Ó Raiz de Jessé, ó estandarte levantado em sinal para as nações! (Is 11,10); ante vós se calarão os reis da terra e as nações implorarão misericórdia (Is 52,15): Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora! (Hab 2,3);
20 de Dezembro: Ó Chave de David, Ceptro da casa de Israel, que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre (Is 22,22): Vinde logo e libertai o homem prisioneiro, que, nas trevas e na sombra da morte, está sentado (Sl 106,10);
21 de Dezembro: Ó Sol nascente justiceiro, resplendor da Luz eterna (Hab 3,4): Ó vinde e iluminai os que jazem nas trevas e, na sombra do pecado e da morte, estão sentados (Lc 1,78);
22 de Dezembro: Ó Rei das nações, desejado dos povos (Ag 2,8): Ó Pedra angular, que os opostos unis (Ef 2,20): Ó vinde e salvai este homem tão frágil, que um dia criastes do barro da terra! (Gn 2,7);
23 de Dezembro: Ó Emanuel: Deus-connosco, nosso Rei Legislador (Is 32,22), Esperança das nações e dos povos Salvador (Gn 49,10): Vinde enfim para salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!
Sete antífonas que nos lembram a plenitude de Deus que é “tudo em todos”.
Além disso, elas somam as letras que constituem o acróstico invertido: “ERO CRAS”, isto é, Estarei (aí) amanhã!
17 - S apientia
18 - A donai
19 - R adix Jesse
20 - C lavis David
21 - O riens
22 - R ex Gentium
23 - E mmanuel
[1] 1 Apud. Ryan, 1992, p. 43.

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