Gertrudes compreendeu que, sempre que o homem pede a Deus
que o preserve do pecado, ainda que o secreto desígnio de Deus permita que ele
caia em alguma falta grave, esta queda não será tal, que a graça divina não lhe
seja dada como bengala onde pode apoiar-se para regressar mais facilmente à
penitência, [...]
Viu-se junto do Senhor, pedindo-lhe a bênção. Tendo-a
obtido, pareceu-lhe que, em troca, o Senhor lhe pedia que fosse ela a
abençoá-l'O. Com isto, compreendeu que o homem abençoa o Senhor sempre que se
arrepende interiormente de todas as ofensas que cometeu contra o seu Criador, e
Lhe pede ajuda para delas se preservar no futuro. O Senhor dos Céus inclinou-Se
profunda e reconhecidamente, mostrando que esta bênção Lhe era eminentemente
agradável, como se dela proviesse toda a sua felicidade. [...]
Doutra vez, perante a dificuldade de um certo trabalho,
[Gertrudes] disse ao Pai: «Senhor, ofereço-Vos este trabalho pelo vosso Filho
único, na virtude do Espírito Santo, pela vossa eterna glória». Uma graça de
luz revelou-lhe a eficácia destas palavras, a ponto de todos os oferecimentos
feitos com essa intenção assumirem, de forma magnífica, uma elevada qualidade
que ultrapassa todo o valor humano, tornando-se agradáveis a Deus Pai. Pois
assim como os objetos parecem verdes quando são observados através de um vidro
verde, e vermelhos quando o vidro é vermelho, e por aí fora, assim também nada
é mais infinitamente doce e agradável a Deus Pai do que aquilo que Lhe é
oferecido por seu Filho único.
Por Santa Gertrudes de Helfta
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