Terceira hora de agonia no Horto do Getsêmani
das 11 à meia-noite
M
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Ó meu Amor, parte-se-me o coração ao ver-Te tão débil e sem
forças! O Teu adorável rosto e as Tuas mãos criadoras tocam a terra e
mancham-se de sangue; parece-me que aos rios de iniquidade, que as criaturas Te
mandam, Tu queres dar [em troca] rios de sangue, para que as suas culpas fiquem
afogadas nele e, com ele, dar a cada uma o rescrito do Teu perdão. Mas, ó meu
Jesus, levanta-Te, o Teu sofrimento é demasiado; ao Teu Amor, basta até aqui!
E enquanto parece que o meu amável Jesus morre no próprio
Sangue, o Amor dá-Lhe nova vida. Vejo-O mover-se com dificuldade; levanta-se, e
ensopado de sangue e de lama, parece que quer caminhar, e, não tendo forças,
arrasta-se com dificuldade. Minha dócil Vida, deixa que Te leve nos meus
braços. Porventura, vais ter com os Teus queridos discípulos? Mas, qual não é a
dor do Teu adorável Coração ao vê-los de novo a dormir!
E Tu, com a voz fraca e a tremer, chama-los: “Meus
filhos, não dormais! A hora está próxima. Não vedes em que estado Me encontro?
Ajudai-Me, não Me abandoneis, nestas últimas horas!”
E, vacilando, estás para cair junto deles, entretanto, João
estende os braços, para Te amparar. Estás tão irreconhecível que, se não fosse
pela suavidade e doçura da Tua voz, não Te teriam reconhecido. Depois de lhes
teres recomendando a vigilância e a oração, regressas ao Horto, mas com uma
segunda chaga no Coração. Meu Bem, nesta chaga vejo todas as culpas daquelas
almas que, apesar das manifestações dos Teus dons, beijos e carícias, na noite
da prova, esquecendo o Teu Amor e os Teus dons, permanecem como que sonolentas
e adormecidas, perdendo assim o espírito de oração e de vigilância.
Porém, meu Jesus, é verdade que, depois de Te ter visto e
saboreado os Teus dons, permanecer privados e resistir, é preciso muita força;
só um milagre pode fazer com que tais almas resistam à prova.
Por isso, enquanto me compadeço de Ti, por causa destas
almas, cujas negligências, leviandades e ofensas são as mais amargas ao Teu Coração,
peço-Te que, se elas vierem a dar um só passo que Te possa desagradar, ainda
que minimamente, rodeia-as de tanta Graça, de forma a detê-las, para que não
percam o espírito de oração contínua!
Meu amável Jesus, de regresso ao Horto, parece-me que Tu já
não podes mais; elevas para o Céu o rosto coberto de sangue e de terra e
repetes pela terceira vez: “Pai, se é possível, afasta de Mim este
cálice. Pai Santo, ajuda-Me! Tenho necessidade de conforto! É verdade que, por
causa das culpas que tomei sobre Mim, Me tornei repugnante, desagradável, o
último dos homens, diante da Tua Majestade infinita; a Tua Justiça está
descontente coMigo; mas, olha-Me, ó Pai, sou sempre Teu Filho, que formo uma só
coisa conTigo. Ó Pai, tem piedade, ajuda-Me! Não Me deixes sem conforto!”
Depois, ó meu doce Bem, parece-me que Te ouço chamar a Tua
querida Mãe, para que venha em teu auxílio: “Terna Mãe, estreita-Me nos
Teus braços como Me abraçavas quando era Criança! Dá-Me aquele leite com que Me
amamentavas, para Me restabelecer e Me aliviar as amarguras da Minha agonia.
Dá-Me o Teu Coração, que constituía toda a Minha alegria. Minha Mãe, Madalena,
queridos Apóstolos, vós todos que Me amais, ajudai-Me, confortai-Me. Não Me deixeis
sozinho nestes últimos momentos; fazei todos uma coroa em meu redor; dai-Me
como conforto a vossa companhia e o vosso amor!”
Jesus, meu Amor, quem poderá resistir ao ver-Te nestes
apuros? Qual será o coração, por mais empedernido que seja, que não se comova
ao ver-Te tão afogado em sangue? Quem é que não derramará torrentes de lágrimas
amargas ao escutar as Tuas palavras dolorosas, que pedem auxílio e conforto?
Meu Jesus, consola-Te, vejo que o Pai Te envia um Anjo, a
fim de Te confortar e Te ajudar a sair deste estado, para que Te entregues nas
mãos dos judeus; e enquanto estás com o Anjo, eu girarei pelo Céu e pela terra.
Tu permitir-me-ás que tome este Sangue que Tu derramaste, a fim de que o possa
dar a todos os homens, como penhor de salvação de cada um e trazer-Te em troca,
para teu conforto, os seus afetos, palpitações, pensamentos, passos e obras.
Minha Mãe Celeste, venho ter conTigo, para irmos
junto de todas as almas, para lhes darmos o Sangue de Jesus. Querida Mãe, Jesus
quer ser confortado, e o conforto maior que Lhe podemos dar é levar-Lhe almas.
Madalena, acompanha-nos! Anjos, vinde todos ver em que estado se encontra
Jesus! Ele quer conforto de todos, e é tal e tanto o abatimento, no qual se
encontra, que não afasta ninguém.
Meu Jesus, enquanto bebes o cálice repleto de intensas
amarguras que o Pai Celeste Te mandou, sinto que suspiras, gemes e deliras
ainda mais e com voz sufocada dizes: “Ó almas, ó almas, vinde,
aliviai-Me! Entrai na Minha Humanidade; quero-vos, desejo-vos! Não sejais surdas
à Minha voz, não torneis vãos os Meus desejos ardentes, o Meu Sangue, o Meu
Amor, as Minhas penas! Vinde, ó almas, vinde!”
Meu Jesus delirante, cada um dos Teus gemidos e suspiros é
uma ferida para o meu coração que não me dá paz; por isso, faço meu o Teu
Sangue, o Teu Querer, o Teu zelo ardente, o Teu Amor e, girando céu e terra,
quero ir junto de todas as almas, para lhes dar o Teu Sangue como penhor da sua
salvação e trazê-las junto de Ti, para saciar os Teus desejos ardentes, os Teus
delírios e suavizar as amarguras da Tua agonia. E, enquanto eu faço isto,
acompanha-me com o Teu olhar.
Minha Mãe, venho ter conTigo, porque Jesus quer almas,
quer conforto. Portanto, dá-me a Tua mão materna e juntas giremos por todo o
mundo à procura de almas. Encerremos no Seu Sangue os afetos, os desejos, os
pensamentos, as obras, os passos de todas as criaturas, e lancemos nas suas
almas as chamas do Seu Coração a fim de que se entreguem e, assim, fechadas no
Seu Sangue e transformadas pelas Suas chamas, conduzi-las-emos junto de Jesus
para suavizar as penas da Sua agonia amarguíssima.
Meu Anjo da Guarda, tu precede-me; vai preparando as almas
que deverão receber este Sangue, a fim de que nenhuma gota fique sem o seu
copioso efeito. Minha Mãe, depressa, giremos! Vejo o olhar de Jesus que nos
segue; sinto os Seus gemidos constantes, que nos impelem a cumprir depressa a
nossa tarefa.
Ó Mãe, depois dos primeiros passos, já nos encontramos
à porta das casas onde jazem os enfermos. Quantos membros dilacerados; quantos
sob a atrocidade de dores intensas, prorrompem em blasfêmias e procuram
tirar-se a vida. Outros são abandonados por todos e não têm quem lhes dê uma
palavra de conforto e os cuidados mais necessários e, por isso, imprecam e
desesperam-se ainda mais. Ah, ó Mãe, sinto os gemidos de Jesus que vê
retribuídas com ofensas as Suas mais queridas predileções de amor, ao permitir
que as almas padeçam, para as tornar mais semelhantes a Si. Demos-lhe o Seu
Sangue, a fim de que este lhes dê os auxílios necessários e, com a Sua luz,
lhes faça compreender o bem que se encontra no sofrimento e a semelhança que se
adquire com Jesus; e Tu, minha Mãe, coloca-Te perto deles e, como Mãe afetuosa, toca com as Tuas mãos maternas os seus membros doentes, alivia as
suas dores, toma-os nos Teus braços e do Teu Coração, derrama torrentes de
Graça sobre todas as suas penas: faz companhia aos abandonados, consola os
aflitos, a quem faltam os meios necessários, dispõe Tu almas generosas, para os
socorrerem, a quem se encontra sob as atrocidades das dores implora trégua e
repouso, para que aliviados possam suportar com mais paciência, quanto Jesus
permite.
Andemos mais um pouco e entremos na casa dos agonizantes.
Minha Mãe, que horror! Quantas almas estão para cair no Inferno! Quantos, depois
de uma vida de pecado, querem dar a última dor àquele Coração tantas vezes
trespassado, dando o seu último suspiro num ato de desespero. Muitos demônios
estão à sua volta lançando, nos seus corações, terror e medo dos juízos divinos
e assim dar o último assalto para os conduzir ao Inferno; quereriam lançar
chamas infernais para os envolverem nelas e assim não deixar lugar para a
esperança. Outros, presos às coisas da terra, não conseguem resignar-se e dar o
último passo; ó Mãe, estes são os últimos momentos, eles têm muita necessidade
de auxílio; não vês como tremem, como se debatem entre os espasmos da agonia,
como pedem ajuda e piedade? A terra para eles já desapareceu!
Mãe Santa, coloca a Tua mão materna sobre a sua fronte
gelada, acolhe Tu os seus últimos anélitos; demos a cada agonizante o Sangue de
Jesus, a fim de que, colocando em fuga os demônios, os disponha a todos a
receber os últimos Sacramentos e a uma santa morte. Para seu conforto,
demos-lhe as agonias de Jesus, os Seus beijos, as Suas lágrimas, as Suas
chagas; cortemos os laços que os têm amarrados, façamos escutar a todos a
palavra de perdão e lancemos tal confiança no coração, ao ponto de se lançarem
nos braços de Jesus. Quando Jesus os julgar encontrá-los-á cobertos com o Seu
Sangue, abandonados nos Seus braços e dará a todos o Seu perdão.
Ó Mãe, andemos mais um pouco; o Teu olhar olhe com amor a
terra e se mova a compaixão de tantas pobres criaturas que precisam deste
Sangue. Minha Mãe, sinto-me impulsionado, pelo olhar indagador de Jesus, a
correr, porque quer almas, escuto os Seus gemidos no fundo do meu coração que
me repetem: “Meu filho[1], ajuda-Me, dá-Me
almas!”
Mas, ó Mãe, vê como a terra está cheia de almas que estão
para cair no pecado e Jesus irrompe em pranto ao ver o seu Sangue sofrer novas
profanações. Seria necessário um milagre para impedir a queda; por isso,
dêmos-lhe o Sangue de Jesus para que encontrem n’Ele a força e a graça para não
caírem no pecado.
Ao darmos mais um passo, ó Mãe, encontramos almas que já
caíram na culpa, as quais quereriam uma mão para se levantarem. Jesus ama-as,
mas olha-as horrorizado porque enlameadas, e a sua agonia torna-se mais
intensa. Dêmos-lhe o Sangue de Jesus, para que encontrem nele a mão para se
levantarem; Vês, ó Mãe, são almas que têm necessidade deste Sangue, almas
mortas para a Graça; Oh, como é lastimável o seu estado! O Céu olha-as e chora
de dor, a terra olha-as com horror, todos os elementos estão contra elas e
quereriam destruí-las, porque inimigas do Criador. Ó Mãe, o Sangue de Jesus
contém Vida, demos-lho também, a fim de que ao seu toque, estas almas ressurjam
e ressurjam mais belas ao ponto de fazer sorrir todo o Céu e toda a terra.
Ó Mãe, giremos mais um pouco; vês, existem almas que trazem
o selo da perdição, almas que pecam e fogem a Jesus, que ofendem e desesperam
do seu perdão; são estes os novos Judas espalhados pela terra e que dilaceram
aquele Coração tão amargurado. Dêmos-lhe o Sangue de Jesus, a fim de que este
Sangue apague a marca da perdição e imprima neles a da salvação; lance nos seus
corações tal confiança e amor depois da culpa, ao ponto de os fazer correr aos
pés de Jesus e apertar aqueles pés divinos, para nunca mais se separarem.
Vês, ó Mãe, existem, também, almas que correm loucamente
para a perdição e não existe ninguém que detenha a sua corrida. Coloquemos este
Sangue à frente dos seus passos, a fim de que, ao toque, à luz e às vozes
suplicantes dele, que as quer salvas, possam recuar e percorrer o caminho da
salvação!
Ó Mãe, continuemos, a girar: vês, existem almas boas, almas
inocentes nas quais Jesus encontra a Sua complacência e o repouso da Criação.
Mas, as criaturas, à sua volta, encontram tantas ciladas e escândalos, que
querem arrancar esta inocência e mudar a complacência e o repouso de Jesus em
pranto e amargura, como se não tivessem em mira outra coisa senão aquela de
causarem contínuos sofrimentos ao Seu Coração Divino.
Portanto, como muro de defesa, selemos e rodeemos a
sua inocência com o Sangue de Jesus, a fim de que a culpa não entre nelas;
este, coloque em fuga quem as quer manchar e as conserve cândidas e puras, a
fim de que Jesus encontre, nelas, toda a Sua complacência e o repouso da
Criação e, por amor delas, tenha piedade de tantas outras pobres criaturas.
Minha Mãe, metamos estas almas no Sangue de Jesus, liguemo-las e voltemos a
ligá-las com o Santo Querer de Deus. Levemo-las aos Seus braços e, com as
suaves cadeias do Seu Amor, liguemo-las ao Seu Coração, para suavizar as
amarguras da Sua agonia mortal.
Ó Mãe, escuta, este Sangue grita e quer ainda mais almas;
corramos juntos e vamos às regiões dos heréticos e infiéis. Quanto sofre Jesus
nestas regiões! Ele, que é a Vida de todos, não recebe como retribuição nem
sequer um pequeno ato de amor, não é reconhecido pelas Suas próprias
criaturas. Ó Mãe, demos-lhe este Sangue, a fim de que afugente as trevas da
ignorância e da heresia; faz-lhes compreender que têm uma alma e abre-lhes as
portas do Céu. Depois, metamo-las todas no Sangue de Jesus, conduzamo-las ao
redor d’Ele como tantos filhos órfãos e exilados, para que encontrem o seu Pai,
e deste modo, Jesus sentir-se-á confortado na Sua acérrima agonia.
Mas, parece que Jesus ainda não está satisfeito, porque quer
ainda mais almas. Ele sente que os agonizantes destas regiões lhe são
arrebatados dos Seus braços, para irem cair no Inferno. Estas almas já estão
para expirar e precipitarem-se no abismo; não há ninguém perto delas para as
salvar; temos pouco tempo, estes são os últimos momentos e elas perder-se-ão,
certamente! Não, ó Mãe, este Sangue não será derramado inutilmente por elas,
portanto voemos depressa ao seu encontro, derramemos o Sangue de Jesus sobre as
suas cabeças para que lhes sirva de batismo e infunda nelas a Fé, a Esperança
e o Amor.
Ó Mãe, aproxima-Te delas e supre a tudo o que lhes falta;
antes, mostra-Te; no Teu rosto resplandece a beleza de Jesus, os Teus modos são
todos semelhantes aos Seus e assim, vendo-Te, com toda a certeza, poderão
conhecer a Jesus. Depois, estreita-as ao Teu Coração materno, infunde nelas a
Vida de Jesus que Tu possuis e diz-lhes que, como Sua Mãe, queres que elas
sejam felizes para sempre conTigo no Céu e assim, enquanto expiram, recebe-as
nos Teus braços e faz com que dos Teus, passem para aqueles de Jesus; e se
Jesus, segundo os direitos da Justiça, manifestar que não as quer receber,
recorda-Lhe que o amor com o qual tas confiou aos pés da cruz, reclama os Teus
direitos de Mãe. Deste modo, Ele não poderá resistir ao Teu amor e às Tuas
orações e, ao contentar o Teu Coração, satisfará também os Seus ardentes
desejos.
E, agora, ó Mãe, tomemos este Sangue e demo-lo a todos: aos
aflitos, para que sejam confortados; aos pobres, para que sofram resignados a
sua pobreza; aos tentados, para que obtenham a vitória; aos incrédulos, para
que triunfe neles a virtude da Fé; aos blasfemadores, para que transformem as blasfêmias em bênçãos; aos Sacerdotes, a fim de que compreendam a sua missão e
sejam dignos Ministros de Jesus. Toca os seus lábios com este Sangue, para que
não pronunciem palavras que não sejam para a glória de Deus; toca os seus pés,
a fim de que os faça voar para irem em busca de almas para as levarem a Jesus.
Demos este Sangue aos governantes dos povos, para que se
unam entre si e sintam mansidão e amor para com os próprios súbditos.
Agora, voemos até ao Purgatório e demo-lo também às
almas purgantes, porque elas muito choram e reclamam este Sangue, para a sua
libertação. Não ouves, ó Mãe, não escutas os seus gemidos, os seus desejos
ardentes de amor, as torturas, com as quais se sentem atraídas, continuamente,
para o Sumo Bem? Vês como o próprio Jesus as quer purificar, imediatamente,
para as ter conSigo; atrai-as com o Seu Amor e elas retribuem com contínuos
anelos para com Ele; e enquanto se encontram na Sua presença, não podendo ainda
suportar a pureza do olhar divino, são obrigadas a recuar e a cair novamente
nas chamas!
Minha Mãe, desçamos a este cárcere profundo e, derramando
este Sangue sobre elas, levemos-lhe a luz, acalmemos os seus desejos de amor,
apaguemos o fogo que as queima, purifiquemos as suas manchas, e assim, livres
de todas as penas, elas voarão para os braços do Sumo Bem. Demos este
Sangue às almas mais abandonadas, a fim de que encontrem nele todos os
sufrágios que as criaturas lhes não dão; ó Mãe, demos este Sangue a todas, não
privemos nenhuma dele, a fim de que todas, em virtude dele, encontrem alívio e
libertação. Faz de Rainha nestas regiões de pranto e de lamentações, estende as
Tuas mãos maternas e, uma a uma, tira-as para fora destas chamas ardentes e faz
com que todas desprendam o seu voo rumo ao Céu. E, agora, voemos também nós até
ao Céu, coloquemo-nos às portas eternas e permite-me, ó Mãe, que Te dê, também
a Ti, este Sangue para Tua maior glória. Este Sangue Te inunde de nova luz e de
novas alegrias, e faz com que esta luz desça, em favor, de todas as criaturas,
para dar a todas graças de salvação.
Minha Mãe, dá-me também a mim este Sangue; Tu sabes
quanto necessito dele. Com as Tuas próprias mãos maternas, toca-me todo com
este Sangue e, ao tocar-me, purifica as minhas manchas, cura as minhas feridas
e enriquece a minha pobreza; faz com que este Sangue circule nas minhas veias e
me dê de novo toda a Vida de Jesus. Desça sobre o meu coração e o transforme no
Seu próprio Coração, me embeleze tanto, de tal forma que Jesus possa encontrar
todas as Suas alegrias em mim.
Enfim, ó Mãe, entremos nas regiões celestes e demos este
Sangue a todos os Santos e a todos os Anjos, para que possam receber maior
glória, irromper em agradecimentos a Jesus e interceder por nós, para que em
virtude deste Sangue os possamos alcançar.
E depois de termos dado este Sangue a todos, vamos de novo
ter com Jesus. Anjos e Santos, vinde connosco; ah, Ele suspira pelas almas,
quer que todas voltem a entrar na Sua Humanidade, para dar a todas os frutos do
Seu Sangue; coloquemo-las em redor d’Ele e sentirá regressar a vida e a
recompensa pela agonia tão dolorosa que sofreu.
E agora, Mãe Santa, chamemos todos os elementos para Lhe
fazerem companhia, a fim de que também eles prestem honra a Jesus. Ó luz do
sol, vem dissipar as trevas desta noite para confortar Jesus. Ó estrelas, com
os vossos raios trémulos, descei do céu, vinde a confortar Jesus. Flores da
terra, vinde com os vossos perfumes; pássaros, vinde com os vossos gorjeios;
todos os elementos da terra, vinde a confortar Jesus. Vem, ó mar, a refrescar e
a lavar Jesus. Ele é o nosso Criador, a nossa vida, o nosso tudo; vinde todos a
confortá-Lo, a prestar-Lhe homenagem como nosso Senhor Soberano. Mas, ai, Jesus
não procura luz, estrelas, flores e pássaros; Ele quer almas, almas!
Ó meu doce Bem, estão todos aqui, juntamente, comigo: a Tua
querida Mãe está junto de Ti, repousa-Te nos Seus braços; assim, também Ela se
sentirá confortada estreitando-Te ao peito, porque tomou grande parte na Tua
dolorosa agonia; está aqui, também, a Madalena, a Maria e todas as almas
amantes de todos os séculos. Ó Jesus, aceita-as e diz a todas uma palavra de
perdão e de amor, une-as a todas no Teu Amor, a fim de que, nunca mais, nenhuma
alma Te abandone!
Ai, mas, a mim parece-me que Tu dizes: “Ó filho,
quantas almas, com o seu esforço, Me escapam e caem na ruína eterna! Como é que
se poderá acalmar a minha dor, se Eu amo tanto uma só alma, quanto amo todas as
almas juntas?”.
Meu Jesus agonizante, parece que a Tua Vida está prestes a
terminar. Sinto a Tua respiração ofegante de agonia, os Teus lindos olhos
velados pela morte que se avizinha, todos os Teus membros sem forças e, com
frequência, parece-me que já não respiras. Parte-se-me o coração de dor.
Abraço-Te e sinto-Te gelado; sacudo-Te e não dás sinal de vida! Jesus, estás
morto? Ó Mãe aflita, Anjos do Céu, vinde a chorar Jesus e não permitais que eu
continue a viver sem Ele. Ah, não posso! Abraço-O com mais força e sinto que
volta a respirar, mas, de novo deixa de dar sinal de vida! Chamo-O: –
“Jesus, Jesus, minha Vida, não morras!”
Já sinto o barulho dos Teus inimigos que vêm
para Te prender; no estado em que Te encontras, quem Te defenderá? Mas, eis
que, movendo-Te, como se passasses da morte à vida, olhas para mim e
dizes: “Ó alma, estás aqui? Portanto, tu foste testemunha das Minhas
dores e de todas as mortes que sofri? Fica a saber que, nestas três horas de
acérrima agonia no Horto, encerrei em Mim todas as vidas das criaturas e sofri
todas as suas penas e a sua própria morte, dando a cada uma delas a Minha
própria Vida. As Minhas agonias sustentarão as suas, as Minhas amarguras e a
Minha morte transformar-se-ão para elas em fonte de doçura e de vida. Quanto me
custam as almas! Se pelo menos houvesse uma retribuição! Tu viste que, enquanto
morria, voltava a respirar; eram as mortes das criaturas que Eu sentia em
Mim!”.
Meu Jesus sofredor, já que quiseste encerrar em Ti, a minha
vida e, portanto, também, a minha morte, rogo-Te, por esta Tua dolorosa agonia,
que venhas a assistir-me no momento da minha morte. Eu dei-Te o meu coração
como refúgio e descanso, os meus braços para Te sustentar e coloquei todo o meu
ser à tua disposição; e oh, como me entregaria, de boa vontade, nas mãos dos
Teus inimigos, para poder morrer no Teu lugar! Vem, ó Vida do meu coração,
naquela hora a restituir-me aquilo que Te dei: a Tua companhia, o Teu Coração
como leito e repouso, os Teus braços para me sustentarem, a Tua respiração
ofegante para aliviar a minha respiração aflita, de modo que ao respirar,
respirarei por meio da Tua respiração que, como ar purificador, me purificará
de qualquer mancha e me preparará para entrar na bem-aventurança eterna.
Antes, ó meu amável Jesus, então darás à minha alma a Tua
própria Santíssima Humanidade, de modo que, ao olhares para mim, me olharás
através de Ti mesmo, e olhando para Ti mesmo, não encontrarás nada para me
julgar; e depois banhar-me-ás no Teu Sangue, revestir-me-ás com a veste cândida
da Tua Santíssima Vontade, acariciar-me-ás com o Teu Amor e, dando-me o
derradeiro beijo, far-me-ás levantar voo da Terra rumo ao Céu. E isto que quero
para mim, dá-o a todos os agonizantes; abraça-os todos no Teu amplexo de amor
e, dando-lhes o beijo da união conTigo, salva-os a todos e não permitas que
nenhum se perca!
Meu Bem aflito, ofereço-Te esta Hora santa em memória da Tua
Paixão e da Tua Morte, para desarmar a justa cólera de Deus por causa de tantos
pecados, pelo triunfo da Santa Igreja, pela conversão de todos os pecadores,
pela paz entre os povos, especialmente pela nossa Pátria[2],
pela nossa santificação e em sufrágio das almas do Purgatório.
Vejo que os Teus inimigos já estão perto e Tu tens de me
deixar para ires ao seu encontro. Jesus, permite-me que Te ofereça todos os
santos beijos da Tua Santíssima Mãe, deixa que beije os Teus lábios, que Judas,
agora mesmo, beijará com o seu beijo infernal; que Te enxugue o Rosto banhado
de sangue, sobre o qual, dentro em breve, choverão murros e escarros;
abraço-me, fortemente, ao Teu Coração, não Te abandono, mas sigo-Te e Tu
abençoa-me e assisti-me. Assim seja.
Reflexões práticas
Nesta terceira hora do Getsêmani, Jesus pediu auxílio ao
Céu, e eram tantas as Suas penas que pediu conforto, também, aos Seus
discípulos. E nós, em qualquer circunstância, dor ou desventura, pedimos sempre
ajuda ao Céu? E se também nos dirigimos às criaturas, fazemo-lo de maneira
ordenada, junto de quem nos pode confortar santamente? Resignamo-nos, ao menos,
se não recebemos aquele conforto que esperávamos, aproveitando a indiferença
das criaturas para nos abandonarmos mais nos braços de Jesus? Ele foi confortado
por um Anjo; e nós, podemos dizer que somos o Anjo de Jesus, estando junto
d’Ele para O consolar e tomar parte das Suas amarguras? Mas, para fazermos, na
verdade, de Anjos de Jesus, é necessário aceitar as penas, assim como Ele nô-las
envia, por isso, como penas divinas; só então, podemos ousar confortar um Deus
tão amargurado; doutro modo, se aceitamos as penas em sentido humano, não nos
podemos servir delas para consolar este Homem-Deus, e portanto não podemos
fazer-Lhe de Anjos.
Nos sofrimentos que Jesus nos manda, parece que nos envia
o cálice onde nós devemos colocar o fruto das mesmas, e estas penas, sofridas
com amor e resignação, converter-se-ão em dulcíssimo néctar para Jesus. Em cada
sofrimento, diremos: “Jesus chama-nos a sermos anjos em seu redor, quer as
nossas consolações e, por isso, faz-nos tomar parte das Suas penas.
Jesus, meu Amor, nos meus sofrimentos procuro o Teu Coração
como repouso e quero reparar as Tuas penas com as minhas, para as trocarmos
juntos e eu ser o Teu anjo consolador.
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1 No original encontra-se: “Minha
filha”.
2 No original: pela nossa Itália.
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